Page 334 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Semimorto e com dores atrozes por todo o corpo, com incrível dificuldade para
qualquer movimento, precisou de toda sua determinação para erguer a cabeça
e tentar ver o que era que chegava.
E viu. Aproximando-se com a leveza do vento, com uma graça infinita e com
precisão impecável, o grande Condor. Com as enormes asas pretas e brancas
completamente abertas e parecendo feito, ele mesmo, apenas de ar, tal a
intimidade da ave com o seu ambiente. Cesar pensou que aquele grande
pássaro se revestia de atmosfera, como se o ar estivesse inflado, se exibindo
sob uma forma soberba idealizada.
O Condor não somente pairava no ar, ele era efetivamente uma parte
ampliada do ar. Era, ao mesmo tempo, extensão e síntese do todo que o
envolvia. Observando-o a dominar os céus e o vento com naturalidade
mágica, era impossível se duvidar da força da sua natureza ou ignorar que a
sua chegada e sua presença definiriam e igualariam todas as coisas. Sem
deixar nada inconcluso ou sem resposta.
O grande pássaro voava descrevendo círculos cada vez menores à medida que
se aproximava do homem pendurado naquela encosta da montanha. E ia
ampliando a sombra sobre o corpo dilacerado, encobrindo por completo o sol.
Na sua cara enrugada uma crista vermelha separava os olhinhos argutos que
observavam e avaliavam a próxima refeição, buscando a certeza do extinguir-
se completo da vida.
O Condor podia esperar, ele tinha a eternidade ao seu dispor.
Cesar Ninan, incapaz para qualquer reação ou sequer um mínimo sentimento
de revolta, encarou o bicho reparando nas garras potentes e no bico enorme,
encurvado, serrilhado, que poderiam quebrar seus ossos com facilidade.
E Cesar pensou que isso era bom, faria sua morte ser mais rápida. Ele sabia
que o Condor, embora sendo uma ave enorme, não conseguiria libertá-lo das