Page 332 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Havia no platô mais pessoas além de seus dois algozes de sempre, falando e
gritando e, de repente, tiros, desde lá, da borda do precipício.
Tiros contra ele.
Sentiu as balas passarem zunindo a milésimos de centímetros da sua cabeça
para ricochetearem na rocha às suas costas e desesperado, instintivamente,
começou a se balançar, fazendo movimentos cada vez mais frenéticos para se
transformar num alvo em movimento e consideravelmente mais difícil.
Procurou alguma fenda na rocha ou uma protuberância qualquer que pudesse
lhe servir de escudo e balançou-se até cerca de meio metro em frente para
agarrar-se a uma ponta, afiada como uma faca, mas que marcava a sombra
de uma fenda suficientemente larga para ele conseguir se enfiar ainda que a
meio corpo e se proteger mais ou menos dos tiros.
Agarrou-se como pode, torcendo as mãos num ângulo quase impossível por
conta da lanterna presa aos seus braços, que, enorme, impedia-o de se segurar
normalmente.
Os tiros continuaram por mais alguns minutos, estridentes e enervantes e
embora só conseguissem atingir a pedra, ricochetearam e rasparam na corda
estraçalhando as malhas superficiais e Cesar sentiu o baque que anunciava o
fraquejar da sua única sustentação sobre o abismo. O seu fio de vida. E ele,
que nunca havia rezado, ergueu uma oração a alguma infinita inteligência
cósmica porque não queria morrer ali, despedaçando-se contra o solo depois
de despencar por toda aquela altura inacreditável. E pensou ter sido atendido
porque os tiros pararam tão repentinamente quanto haviam começado e
reinou um silêncio penetrante, lá em cima no platô e por todo o abismo.
Cesar esperou que o puxassem. Esperou, esperou e esperou, veio à noite,
depois mais um amanhecer. O sol se erguendo até chegar a pino marcando o
meio do dia, e ninguém para resgatá-lo e Cesar compreendeu que seus
carcereiros estavam mortos, certamente assassinados por algum grupo rival