Page 328 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Começou a esfriar e escurecer e Cesar soube que era noite quando finalmente
                      os homens voltaram. Ergueram-no, tiraram-lhe a venda e o empurraram para
                      mais alto, seguindo a trilha até uma clareira. Amarraram-lhe as mãos agora
                      na  frente  do  corpo  e  o  fizeram  segurar  uma  grande  lanterna,  enorme
                      quadrada,  pesada,  incômoda. Com  gestos  bruscos  fizeram-no  compreender
                      que deveria permanecer ali, segurando a lanterna com sua luz fria cortando a
                      noite como um farol. Era preciso ele mantê-la erguida à altura dos ombros e
                      os braços esticados. Assim ele foi obrigado a ficar por longas e doloridas horas.


                      E isto também se repetiu uma infinidade de vezes.

                      A  cada  vez  que  era  vencido  pelo  cansaço  e a dor insuportável o  obrigava
                      baixar os braços espancavam-no cruelmente. O cobriam de coronhadas e o
                      chicoteavam  com  algo  que  parecia  ser  uma  tira  de  couro  com  duríssimas
                      pontas de  metal afiado  e  cortante  que  se  enterravam  na  sua  pele.  Isso  se
                      repetia até ele desmaiar um desmaio tão definitivo que nem mesmo os chutes,
                      coronhadas,  chicotadas  e  socos  repetidos  conseguiam  fazê-lo  retomar  a
                      consciência. Então esperavam ele acordar do torpor dos traumas e ferimentos
                      e repetiam todo o processo, obrigando-o a erguer a lanterna. Noite após noite
                      ele foi acorrentado a um tronco grosso, no alto da trilha para segurar a enorme
                      lanterna e servir como um ponto de referência em algum caminho misterioso
                      para viajantes também misteriosos.

                      Um farol humano.

                      Os dias e noites se seguiam imperturbáveis e Cesar cumpria sua missão de

                      marco iluminador. Logo começaram a exigir dele, movimentos diferentes, em
                      algumas noites deveria fazer círculos com a lanterna, bem amplos, erguendo
                      os braços bem acima da cabeça e desenhando um círculo no ar que terminava
                      abaixo  dos  pés,  isso  deveria  continuar  pela  noite  inteira.  Outras  vezes  os
                      círculos deveriam ser menores e houve vezes em que deveria movimentar a
                      lanterna como se estivesse desenhando uma linha no ar, o mais reta possível.
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