Page 326 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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o duro golpe da coronha da arma, caiu sobre os joelhos e viu o precioso gole
d’água desperdiçado, esparramado sobre a terra socada e árida.
Ficou largado meio desmaiado, preso pelos pulsos nas correntes.
E as horas continuaram passando sobre seu delírio.
Cesar nunca conseguiu medir com precisão por quanto tempo durou aquele
encarceramento cruel. Lembrava-se de que tantos foram os golpes em suas
faces com as coronhas das armas, que começou a contar a passagem das horas
pela sensação da dor nos cortes e nos inchaços do rosto, sentia que estava todo
intumescido e febril, sentia os lábios enormes e um pouco como se estivesse
anestesiado e que essas sensações iam, aos poucos, diminuindo, ajudando-o de
alguma forma, criar alguma consciência do tempo transcorrido. A dor ia se
aplacando e o sangramento diminuindo e então ele pensava que já era hora
dos seus carcereiros atormentadores voltarem e invariavelmente os homens
armados voltavam, ele tentava se erguer, exigir explicações e apanhava de
novo.
Esta cena teria se repetido uma infinidade de vezes, quantas? Centenas?
Milhares de vezes? Cesar não saberia dizer.
Até que um dia e, Cesar não saberia dizer quantos dias após ele haver sido
deixado na jaula, acorrentado, os homens vieram, deram-lhe de beber a água
insalubre e não bateram nele porque Cesar, desta vez, permaneceu sentado,
sem nenhuma tentativa para se erguer ou falar.
Na próxima visita trouxeram-lhe comida. Uma coisa pastosa e horrível que
Cesar não conseguiu identificar, mas que ele comeu sem um mínimo de revolta
porque se decidiu sair daquela jaula com vida.
Incorporando-se de uma força impossível, Cesar permaneceu silencioso e
calmo. Recebia a comida e a bebida e teria agradecido de joelhos, caso lhe