Page 321 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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E Cesar pensou que, talvez em sonhos, pudesse mesmo haver uma mesa de
banquetes naquele altar num vulcão nos Andes. Observou o luxo e a
solenidade daqueles objetos que haviam invadido toda sua história de vida e
percebeu o quanto havia de nobre, elegante, majestoso e icônico e ao mesmo
tempo superficial, em tudo aquilo.
Pressentindo, com seu instinto mais primitivo, que aquilo não era um sonho
e que então, sendo assim, algo estava profundamente errado.
E ele soube do perigo com um saber premonitório muito antes de ver os
guerrilheiros que chegavam. A princípio, apenas como sombras dentro da
sombra noturna com suas formas mal definidas que se avolumavam sob o
manto negro. Primeiro só um braço, um tronco, uma face desconhecida e
feroz.
E então um som, como o estampido de uma rolha de champagne e o copo de
cristal na mão de Victor se estilhaçando e explodindo em milhões de
pedacinhos brilhantes, enquanto o líquido castanho se esparramava para
baixo e ao redor, parecendo a Cesar, terrivelmente, com um jorro de sangue.
E ele só conseguia pensar que aquilo era impossível, estava tudo errado, como
Victor teria chegado até ali? Como? Quando?
E Cesar olhando este estilhaçar-se como se hipnotizado, sem conseguir
compreender verdadeiramente o que estava acontecendo ao mesmo tempo em
que sentia uma mão rude, áspera, prendendo-o por um braço enquanto o cano
de uma arma era comprimido sobre sua face esquerda. Em seguida, mas quase
simultaneamente, vozes alteradas, estranhas, ordenando numa língua
incompreensível enquanto da escuridão surgiam mais homens armados
ameaçando cada um deles.
E Cesar, incapaz de desviar os olhos de Victor, percebendo-o cambalear e ir se
curvando sobre si mesmo até cair de joelhos, provocando a reação da jovem