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Fascinado por esta narrativa, mesmo ignorando a importância que este
conhecimento um dia teria em sua vida, Cesar transcendia seu corpo e sua
mente e viajava em espírito pelos labirintos da montanha mística.
Viajou milhares de terras e picos incontáveis no voo de sua consciência livre
do corpo. Viu os paredões de pedra com suas linhas praticamente inexistentes
de caminhos e passagens por tuneis gigantescos. Caminhos por onde homens
solitários e almas perdidas seguiam acreditando nos desígnios dos deuses para
suas vidas. Sem imaginar nenhuma explicação satisfatória para isso.
Viu os altiplanos, os platôs infindáveis nos meios dos paredões de pedra que
ninguém nunca havia vencido, ou visto. Viu rios misteriosos, negros em sua
profundidade impossível, viu grutas abrigando morcegos comedores de frutos
vermelhos e viu bandos de lhamas indiferentes ao bote do puma que as
mataria, grupos de cavalos selvagens em debandada pelos vales, as raposas
sorrateiras se esgueirando para suas tocas e sentiu o fluxo da vida pulsando
na amplitude da respiração da mãe terra.
A fumaça azulada e sufocante da erva do cachimbo sagrado, que ele tragava
no compasso do seu próprio inspirar, envolvia todo seu corpo e transformava
a realidade em que ele estava.
Então, subitamente, o largo de pedra em que acampavam, Cesar e seu amigo,
foi tomado por nuvens baixas que se fecharam bruscamente sobre eles.
As estrelas foram apagadas no céu andino e Cesar se viu num outro lugar.
Ali estavam, fantasmagoricamente e sem nenhum sentido ou explicação, uma
larga mesa, muito igual à mesa de banquetes da mansão da sua meninice e,
sobre ela, uma toalha do mais fino linho, guardanapos, louças em porcelana
requintadíssima, talheres de prata, charutos e copos de cristal.
Naquele altiplano aos pés do Calla Hoyara tal e qual estariam numa das
inúmeras salas em Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos.