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E à medida que intensificava suas pesquisas os sonhos e pesadelos começaram
                      a ser mais completos, mais detalhados, cheios de sinais e premonições que
                      passaram a assombrá-lo também nos momentos de vigília.


                      Num crescendo sorrateiro, contínuo e persistente, antigas certezas sobre suas
                      imensas culpas acerca das mortes de seus pais, irmãos e sobrinhos voltaram a
                      ocupar sua mente.

                      Começou  a  se  insinuar  no  seu  coração  a  convicção  de  que  ele  poderia  ter
                      impedido a tragédia que os vitimou. Uma convicção imposta a ele através do
                      grito infinito do Condor, momentos antes das garras cravarem-se sobre sua
                      carne machucada para levá-lo para o mundo além da vida terrena.

                      Aquele  grito  sem  fim,  ecoando  cada  vez  com  maior  força  ao  invés  de  ir
                      sumindo,  reverberando  sobre  as  rochas  e  a  mata  selvagem  da  formação
                      abismal  sobre  a  qual  ele  jazia  indefeso,  era  a  tradução  do  mais  belo  e
                      importante som que já ouvira e que, sabia agora, havia salvado sua vida.


                      E para quê?

                      Para quê e por que fora salvo das garras da morte certa sobre o precipício?

                      Era  a  pergunta  que  o  atormentava  e  que  era  repetida  e  repetida
                      incansavelmente  pela  própria  morte  que  recentemente  começara  a  se
                      apresentar a ele novamente para longas conversas, como acontecia quando
                      era um menino acuado sob a imensa responsabilidade de criar o mais belo som
                      já ouvido no mundo e que, ele agora sabia, pois lhe fora recém revelado, era o
                      som  que  se  repetia  reverberando  na  dureza  das  rochas  e  no  fundo  da
                      inacreditável altura dos abismos.

                      Então? Tudo aquilo que ele vivera e que sofrera, toda a vergonha reprimida
                      por sua covardia, por sua teimosia e, sobretudo, a decepção com a morte que
                      o atraiçoara negando-lhe o único pedido que lhe fizera, de ser o primeiro a
                      morrer, de nunca ter de passar pela agonia de enterrar um ente querido.
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