Page 407 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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A princípio Cesar duvidou do que ouvia, pensou que era uma nova forma de
alucinação, mas a brisa recomeçou seu soprar mínimo e mais uma vez o
galhinho se agitou puxado pela teia brilhante e cantou.
E então Cesar compreendeu qual a única forma de compor a canção com a
vibração exata para a cura da vida. E a partir de então todo seu trabalho
mudou.
Começou pela coleta dos sons, de todos os sons da natureza que podia ouvir,
intuir, imaginar. Passou a grava-los com obsessão idêntica com a que escrevia
metros e metros de notas sobre as pautas musicais. Comprou os melhores
equipamentos gravadores que encontrou, os mais sensíveis e precisos e
instruiu Loop a ajudá-lo. Buscava incessantemente captar os sons, qualquer
som, mas em especial aqueles mínimos, impossíveis aos seres humanos,
porque Cesar intuiu que nesses sons inaudíveis havia às correspondências
especiais que ele procurava. Depois, na comodidade da sua sala de música
ficava horas infinitas tentado ouvir os sons inaudíveis, vezes sem conta
reproduzia cada gravação sentindo as vibrações, aprendendo a ressoar com
elas, ouvindo o inaudível e percebendo o imperceptível.
A pequena ilha branca virou sua sala de estudos.
Viviam cada vez mais fora, em meio à natureza.
E foi por essa época que Cesar começou um diário em que anotava
minuciosamente cada descoberta de cada dia. Chamou-o “O tecer da teia.”
A obra se transformou, anos depois quando León Tiithee a descobriu, num
livro extraordinário, uma obra de arte com desenhos e com centenas de
anotações e descrições de notas musicais reconstituindo todo e qualquer som
em cada uma das suas variações e combinações possíveis.
Podia-se encontrar capítulos inteiros sobre, “barulhinhos do rolar de grãos de
areia com brisa suave”, “sons dos botões de rosas se abrindo ao sol”, “sons das