Page 408 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 408

nuvens brancas com as ondas da maré alta”, e variantes como, “sons das nuvens
                      brancas na vazante da maré,” e ao lado destas anotações havia as impressões
                      de Cesar sobre os sons, ele escrevia coisas como; “o som da brisa embalando as
                      folhas e flores pode ser percebido através do odor fresco sempre que as pétalas, ou
                      as pequenas bordas verdes se agitam, ou se curvam, ou se misturam às partículas
                      de pólem que sempre se erguem no ar ao embalo da brisa. É esse conjunto de
                      minúsculas  coisinhas  que  emitem  os  sons,  muito  próprios,  muito  delicados,
                      imperceptíveis  aos  ouvidos  comuns,  mas  ainda  assim,  muito  verdadeiros.”
                      Também eram frequentes as descrições dos gostos, das formas e das cores das
                      ondas sonoras que ele percebia... “o som do luar de lua cheia quando o mar está
                      se enchendo nas madrugadas de calor, é poderoso, despenca sobre a praia como
                      uma colcha de veludo e tem cor e gosto de morangos em calda.”


                      A obra era totalmente ilustrada seguindo tais percepções e não havia uma
                      única página em que não se pudessem ver os desenhos de grandes asas, como
                      as asas de anjos, entre as diversas figuras coloridas.

                      Anos  após  o  desaparecimento  de  Cesar,  entre  alguns  biógrafos  da  sua
                      trajetória e estudiosos mais apaixonados da sua obra, que buscaram minúcias
                      nas pretensas escritas de tais sons impossíveis aos ouvidos humanos, formou-
                      se  a  ideia  classificada  no  próprio  meio  literário  como  exótica,  de  que  a
                      reprodução das diversas pequenas melodias ali descritas quando executadas
                      de um jeito específico e secreto aos leigos, teriam o poder de criar realidades.
                      Alguns as descreviam como fórmulas mágicas sonoras.

                      À  época  da  primeira  e  única  edição  deste  texto  cuja  publicação  teve  um
                      número reduzido de cópias, ainda não havia esse rumor, mas ainda assim a
                      obra estava destinada desde seu lançamento a se transformar num objeto raro
                      e  muito  valioso  para  colecionadores,  vendidos,  os  poucos  exemplares  que
                      foram comercializados livremente a partir dos poucos compradores originais,
                      por verdadeiras fortunas, em leilões.
   403   404   405   406   407   408   409   410   411   412   413