Page 413 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Um dia, nas memórias de Isabeau, haveria todo um capítulo em que ela
descreveria aquela tarde. Seria seu testemunho de como tudo aconteceu e ela
insistiria sobre o misterioso desaparecimento de Cesar. Desde que chegaram
ao lugar ideal e passados cerca de trinta minutos da contemplação da vista
extraordinária, quando, de forma perfeitamente imperceptível, a cadeira de
rodas começou sua corrida com velocidade crescente colina abaixo, deixando-
os como que petrificados, aturdidos demais para a reação, a qual, quando
finalmente veio, foi inútil, porque precisaria ter sido imediata para ser eficaz
e salvar Cesar.
E de como o viram ser lançado no ar, do alto do abismo e como ele foi subindo,
magicamente, ao invés de cair. Cesar subiu voando no espaço para então
desaparecer, sumir, de um instante para o outro.
Isabeau detalhou as providências que se seguiram após o acidente, as buscas
e as investigações feitas pelos órgãos oficiais, pela polícia local e seus peritos e
as iniciativas particulares que ela mesma contratou e que duraram quase um
ano, sem que conseguissem encontrar nada além dos destroços da cadeira de
rodas.
Finalmente classificou o episódio como um mistério, e não se furtou a se
declarar convencida, contra toda a lógica e o senso comum, que seu tio avô
Cesar apenas sumiu como por encanto, no ar. “...um retirar-se da vida
perfeitamente em acordo a sua personalidade única e extraordinária”. Anotaria
ela ao final do relato.
Esse capítulo das memórias de Isabeau foi intitulado, “... naquele dia subimos
a trilha cantando.”
Eles cantavam e Cesar sonhava com pássaros, girassóis, ipês e junquilhos
amarelos e via em sonhos a alameda do jardim que ele percorreria a caminho
do céu quando cantariam aquela mesma música.