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Ao final da aula de hoje, Valentina – até então eu não sabia o
nome daquela menina – levantou a mão e perguntou se podia
cantar uma música para os seus amigos. - Mas é claro que sim!
Mesmo que a aula não fosse de música.
A garota de 6 anos, cabelos castanhos e cacheados, ficou à
frente dos seus colegas que formaram a plateia e logo começou
a cantarolar uma introdução – lembro que ficamos, eu, Pedro e
os bolsistas com a sensação de “o que será que está vindo por
aí?” Quando de repente, no primeiro verso da canção todos
começaram a cantar junto com ela. Todas as crianças da turma
e mais a Marina, a Juliana e o Guilherme (bolsistas) formaram um
coral harmonioso.
Eu e Pedro fizemos uma cara de interrogação imaginando por
que só a gente não conhecia aquela música? Nesse momento,
nós é que fizemos a figura da plateia. Era alguma música de
sucesso, que provavelmente faz parte do ranking das mais
tocadas nas rádios da cidade, mas não fazia parte do nosso
repertório.
Quanto pudemos aprender nesse dia ao percebermos que uma
das canções trazidas por uma criança virou a parte mais legal da
aula! Além de ter sido muito valioso conhecer um pouquinho
daquilo que eles gostam e faz parte do dia-a-dia da comunidade
da qual nós também fazemos parte.
Diário de campo, 08 de outubro de 2019
Já conversamos em outros capítulos sobre a riqueza da troca,
sobre o quanto a criança ensina sobre os diálogos entre o ensinar
e o aprender. Quanta coisa a gente aprende quando
oferecemos um ambiente de autonomia – espaços onde os
participantes da educação estejam abertos e disponíveis para
atuação e criação!
Almejo uma pedagogia onde se criem e apareçam muitas
Valentinas para alegrar e motivar as nossas aulas, os nossos
planejamentos não planejados.