Page 32 - O Cavaleiro da Dinamarca
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Antes da meia-noite, sem falta, tinha de chegar à sua casa na clareira
de bétulas.
E ao fim de três quilómetros de marcha, cheio de confiança, penetrou
na grande floresta. A alegria de estar já tão perto dos seus fazia-lhe
esquecer o cansaço e o frio.
Mas agora, depois de quase dois anos de ausência, a floresta parecia-
lhe fantástica e estranha. Tudo estava imóvel, mudo, suspenso. E o silêncio
e a solidão pareciam assustadores e desmedidos.
O Inverno tinha despido as árvores, e os ramos nus desenhavam-se
negros, esbranquiçados, avermelhados. Só os pinheiros cobertos de
agulhas continuavam verdes. Eram daqueles pinheiros do Norte que se
chamam abetos, que são largos em baixo e afilados em cima, que têm o
tronco coberto de ramos desde o chão e crescem em forma de cone da terra
para o céu.
A neve apagara todos os rastos, todos os carreiros. E através do
labirinto do arvoredo o Cavaleiro procurava o seu caminho. O seu plano
era chegar ainda com dia a uma pequena aldeia de lenhadores que ficava
perto do rio que passava junto da sua casa. Uma vez encontrado esse rio,
mesmo de noite, não se poderia perder, pois o curso gelado o guiaria.
A medida que avançava, os seus ouvidos iam-se habituando ao silêncio
e começavam a distinguir ruídos e estalidos. Era um esquilo saltando de
ramo em ramo, uma raposa que fugia na neve. Depois ao longe, entre os
troncos das árvores, avistou um veado. Caminhava em direção ao nascente
e ao fim de uma hora encontrou na neve rastos frescos de trenós.
— Bom sinal — pensou ele —, não me enganei no caminho.