Page 38 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Quatro  meses  tinham  passado  desde  a  partida  de  Lisboa,  quando,  da

                  gávea altíssima, um marinheiro nos brada: Terra! Terra!


                  «Uma bela baia nos apareceu dos lados do Oriente.

                  «Desembarcámos logo.

                  «Com  o  astrolábio  tomámos  a  altura,  e  reconhecemos  estar  no  Sul  da

                  África.

                  «Vimos depois um preto, de estranhas feições, que ia buscar favos de mel


                  a  uma  montanha  próxima.  Foi  logo  cercado  pelos  nossos,  não  para  lhe

                  fazerem mal, mas para que desse informações sobre aquela terra.

                  «Mostraram-lhe tecidos de oiro, prata fina e especiarias.

                  «Quedou-se a olhar pasmado, sem compreender nada, sem dizer palavra.

                  «Eu  mesmo  ofereci-lhe  então  contas  de  vidro,  guizos  de  oiro,  um  belo


                  barrete  vermelho...  Eram  os  presentes  que  lhe  agradavam.  Alegrou-se

                  então o preto, que era cobiçoso daquelas coisas.

                  «Conduziu-nos à povoação que havia perto.

                  «Fomos tão bem recebidos naquele dia e no dia seguinte pelos pretos com

                  quem fizemos várias trocas, que o nosso companheiro Fernão Veloso se


                  atreveu, estando eu já embarcado, a ir ver o interior da terra.

                  «Avança sem medo, descuidado, mas não tardou muito que voltasse mais

                  apressado do que partira. Receei, ao vê-lo correr, a presença de qualquer

                  perigo ainda desconhecido. E logo mandei gente num batel para lhe prestar

                  socorro.


                  «Mas  nessa  altura,  os  negros  avançam  para  ele,  e  furiosamente  o

                  perseguem.

                  «Desço à terra, aflito, não vão os pretos matar Veloso. Mas uma espessa

                  nuvem de setas e pedradas caiu sobre nós.
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