Page 36 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
P. 36
«Fomos sulcando sempre o Atlântico, o mar que os Portugueses
desvendaram à busca das novas ilhas e dos novos países, que o Infante D.
Henrique mandara descobrir e povoar.
«Montes da Mauritânia, terra de Anteu ou Marrocos; a linda e grande Ilha
da Madeira, assim chamada pelo muito arvoredo que tem; a estéril costa
do deserto do Sara, onde nem aves, nem ervas, nem frutos existem —
surgiam-nos à vista. Deixámos depois as últimas paragens do nosso clima
temperado, entrando naquelas regiões cujos habitantes o Sol queima e
toma negros...
«As ilhas das Canárias e de Cabo Verde foram aparecendo aos nossos olhos.
«Neste último arquipélago encontrámos um bom porto em Santiago, ilha
que tem o nome do Santo que foi
sempre temor dos Mouros. Ali descansámos e tomámos mantimentos.
«Outras regiões ficaram para trás, no mesmo caminho do Sul: a Ilha de S.
Tomé, que já era nossa, e o Reino do Congo, pelos Portugueses convertidos
à Fé de Cristo. Ali corre o Zaire, rio claro e longo, que também os nossos
descobriram.
«Atravessámos o Equador.
«Vimos despontar a constelação do Cruzeiro do Sul, que ninguém vira antes
dos nossos primeiros navegadores terem corrido tão longas rotas do
Atlântico...
«E nesses climas tropicais, onde a luz do Sol é mais intensa e viva, sofremos
calmarias e tempestades, e os vendavais fortíssimos que Éolo — o Deus do
Vento — solta sobre o Mar. Dissemos então adeus à Ursa Maior e à Ursa
Menor, constelações que brilham no hemisfério donde vínhamos, e que
desapareceram então do Céu, mergulhando no Mar...