Page 33 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Vão-me chamar, a mim, Vasco da Gama, para comandar a frota destinada
a esse heroico empreendimento.
«Obedeci ao meu Rei, que é meu dever obedecer-lhe, embora soubesse a
que sofrimentos me arriscava. Mas fama e glória só assim se alcançam. E,
por minha Pátria e meu soberano, mais perigos e tormentos sofreria...
«Oferece-se a acompanhar-me meu querido irmão Paulo da Gama, que a
nossa grande amizade obriga a não me deixar sozinho. E a ele se junta
Nicolau Coelho, marinheiro experiente e sabedor.
«Eis no porto de Lisboa, onde o Tejo mistura as suas águas com a água
salgada do Mar, as naus prontas a sair.
«Ninguém receia a viagem aventurosa. Ninguém vacila em seguir-me a toda
a parte.
«Na praia, guerreiros e marujos passeiam os seus fatos novos.
«Os ventos sossegados fazem ondular os estandartes nas fortes e belas
naus que prometem tornar-se um dia — como a lendária Argos onde os
Gregos, em tempos remotos, foram conquistar o Velo de Oiro — estrelas
brilhantes no céu da glória...
«Estão as naus aparelhadas e nós aparelhados para todas as traições e lutas
do Mar, a que os navegadores estão sujeitos.
«A Deus pedimos, antes de partir, a proteção e ajuda, favor celeste que nos
guiasse.
«E enfim, da Capela de Santa Maria de Belém saímos para bordo.
«A gente da cidade veio-nos acompanhar, em grande multidão, chorando e
gritando. Soluçavam as mulheres. Suspiravam os homens que ficavam.
Todos receavam a nossa perda nos desconhecidos oceanos que íamos
navegar...