Page 173 - As Viagens de Gulliver
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O rei que, como já atrás referi, era um príncipe de grande inteligência,
ordenava amiúde que eu fosse trazido na minha caixa e colocado sobre a
secretária no seu gabinete de trabalho. Dizia-me, então, para trazer para fora da
caixa uma das minhas cadeiras e instalar-me nela a uma distância de três jardas
e sobre o ponto mais elevado da sua secretária, ficando assim quase ao nível da
sua cara. E deste modo conversámos várias vezes um com o outro.
Um dia tomei a liberdade de dizer a Sua Majestade que o desprezo que
ele mostrava pela Europa e o resto do mundo não parecia corresponder àquelas
excelentes qualidades de espírito de que ele era senhor; que a razão não ia de par
com a envergadura do corpo, mas, pelo contrário, e como observávamos no
nosso país, eram as criaturas mais pequenas quem ela mais favorecia; que, entre
outros animais, eram as abelhas e as formigas as reputadas de terem mais
capacidade de trabalho, habilidade e sagacidade, que muitos animais de espécies
maiores; e que, por mais insignificante que ele me tomasse, esperava poder viver
o suficiente para lhe prestar serviços de destaque. O rei ouviu-me com toda a