Page 177 - As Viagens de Gulliver
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o que eu dizia e apontando, para não se esquecer, as perguntas que tencionava
      fazer-me.
          Quando, finalmente, terminei esta minha longa exposição, Sua Majestade,
      numa  sexta  audiência,  com  base  nas  suas  notas,  apresentou  dúvidas,  fez
      perguntas e pôs objeções várias sobre cada assunto em particular. Perguntou-me
      quais os métodos usados na cultura espiritual e física dos jovens filhos de nobres;
      e  em  que  ocupavam  geralmente  aqueles  primeiros  anos  da  sua  vida,  tão
      propícios à aprendizagem. Como se procedia para preencher algum lugar vago
      naquela assembleia quando uma família nobre se extinguia. Quais os requisitos
      naqueles  que  haviam  de  ser  feitos  novos  lordes;  se,  por  acaso,  não  eram  a
      fantasia de um príncipe, uma soma em dinheiro a uma dama ou a um primeiro-
      ministro, ou a intenção declarada de fortalecer um partido contrário ao interesse
      público os verdadeiros motivos destas promoções. E até onde ia o conhecimento
      destes Lordes em matéria de leis do seu país, e como o adquiriram, de modo a
      capacitá-los a decidirem em última instância dos bens de súbditos como eles. Se
      eles se encontravam sempre tão isentos da avareza, tão inacessíveis às simpatias
      ou  tão  independentes  da  necessidade,  que  não  aceitassem  um  suborno  ou
      admitissem qualquer outra sinistra perspectiva. Se aqueles santos lordes, sobre os
      quais  eu  dissera  ascenderem  àquela  classe  exclusivamente  em  função  do  seu
      conhecimento de assuntos religiosos e da santidade das suas vidas, nunca teriam
      cedido  às  tentações  da  vida  enquanto  simples  clérigos,  ou  vendido,  enquanto
      capelães,  a  algum  senhor  nobre,  cujas  opiniões  continuavam  servilmente  a
      seguir, mesmo depois de terem sido admitidos naquela assembleia.
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