Page 43 - As Viagens de Gulliver
P. 43
razão para desatarem a rir.
Tinha apresentado ou enviado tantos memoriais e requerimentos para a
minha liberdade, que, por fim, Sua Majestade expôs o assunto, primeiramente à
mesa do desembargo e depois ao conselho do Estado, onde houve objeção
apenas por parte do ministro Skyresh Bolgolam, que, sem razão alguma, se
declarou contra mim; todo o resto do conselho, porém, foi-me favorável, e o
imperador apoiou esta opinião. O citado ministro, que era galbet, como quem diz
almirante, merecera a confiança do seu amo por ser hábil nos negócios públicos,
mas era de índole áspera e excêntrica. Conseguiu que os artigos respeitantes às
condições, em que devia ser posto em liberdade, seriam redigidos por ele. Esses
artigos foram trazidos pessoalmente por Skyresh Bolgolam, acompanhado de dois
subsecretários e de muitas pessoas de distinção. Disseram-me que me
comprometesse, sob juramento, a observá-los, juramento feito primeiro à moda
do meu país e, em seguida, à maneira decretada pelas suas leis, que consistia em
conservar o artelho do meu pé direito na mão esquerda, em pôr o dedo grande da
mão direita no alto da cabeça e o polegar na ponta da orelha direita. Como,
porém, há talvez curiosidade em conhecer o estilo daquela carta e em saber os
artigos preliminares da minha libertação, traduzo, aqui, palavra por palavra, todo
o documento.
“GOLBASTO MOMAREN EULAMÉ GURDILO SHEFIN MULLY
ULLY GUÉ, mui poderoso imperador de Lilipute, as delícias e o terror do
universo, cujos estados abrangem cinco mil blustrugs (ou sejam,
aproximadamente, seis léguas em redor) até os confins do globo, soberano de
todos os soberanos, mais alto do que os filhos dos homens, cujos pés oprimem a