Page 44 - As Viagens de Gulliver
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terra até o centro, cuja cabeça chega ao sol, cujo relance de olhos faz tremer os
joelhos dos potentados, carinhoso como a primavera, agradável como o verão,
abundante como o outono, terrível como o inverno, a todos os nossos fiéis e
amados súditos, saúde. Sua Majestade altíssima propõe ao Homem Montanha os
seguintes artigos, dos quais, como preliminar, será obrigado a fazer a ratificação
por juramento solene:
I. O Homem Montanha não sairá dos nossos vastos Estados sem nossa
permissão escrita e autenticada com o nosso selo grande.
II. Não terá a liberdade de entrar na nossa capital sem nossa ordem
expressa, a fim de que os habitantes sejam avisados duas horas antes para
permanecerem encerrados em suas casas.
III. O referido Homem Montanha limitará os seus passeios às nossas
estradas principais, evitando passear ou deitar-se em algum prado ou seara.
IV. Passeando pelas aludidas estradas, terá o máximo cuidado possível em
não pisar o corpo de algum dos nossos fiéis súditos, nem os seus cavalos ou
carruagens e não agarrará nenhum dos nossos súditos, sem que ele o consinta.
V. Se for necessário que algum dos correios do gabinete faça qualquer
jornada extraordinária, o Homem Montanha é obrigado a levar na algibeira o
mencionado correio durante seis dias, uma vez em todas as luas, e trazendo-o de
novo, são e salvo, à nossa presença imperial, se tal lhe for requerido.
VI. Será o nosso aliado contra os nossos inimigos da ilha de Blefuscu e
fará todo o possível para fazer submergir a esquadra que eles atualmente
preparam contra o nosso território.
VII. O dito Homem Montanha, às horas de descanso, prestará o seu auxílio
aos nossos operários, ajudando-os a carregar grandes blocos de pedra para se
concluírem os muros do nosso grande parque e outras construções imperiais.
VIII. Depois de ter feito o solene juramento de observar estes artigos,
acima decretados, o dito Homem Montanha terá uma ração de carne todos os
dias e bebida suficiente para sustento de mil e oitocentos e setenta e quatro súditos
nossos; terá entrada livre perante a nossa individualidade imperial e outras
demonstrações do nosso valimento.
“Dado no nosso paço, em Belfaborac, aos doze dias da nonagésima
primeira lua do nosso império”.