Page 45 - As Viagens de Gulliver
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Prestei o juramento e assinei todos aqueles artigos com grande alegria,
embora alguns não fossem tão honrosos como eu desejava, mas nisso via-se o
efeito da malícia do almirante Skyresh Bolgolam.
Tiraram-me as correntes e fui posto em liberdade. O imperador deu-me
a honra de assistir à minha libertação. Agradeci humildemente a mercê que Sua
Majestade me havia feito, prostrando-me a seus pés, mas ele mandou que me
levantasse, nos termos mais amáveis possíveis.
O leitor decerto pôde notar que, no último artigo do auto da minha
libertação, o imperador se comprometera a dar-me uma ração de carne e
bebida, que poderia bastar para sustento de mil e oitocentos e setenta e quatro
Liliputianos. Algum tempo depois, perguntando a um cortesão, meu amigo
particular, a razão que determinara aquele alimento, respondeu-me que os
matemáticos de Sua Majestade, tomando a altura do meu corpo por meio de um
quadrante e calculando a minha grossura, e, achando-a, em relação à sua, como
mil e oitocentos e setenta e quatro estão para um, inferiram da homogeneidade
do seu corpo, que eu devia ter um apetite mil e oitocentas e setenta e quatro vezes
maior do que o deles.
Por esta exposição pode o leitor avaliar o notável senso daquele povo e a
economia sábia, exata e perspicaz do imperador.