Page 49 - As Viagens de Gulliver
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altura cada um e tão fortes que pudessem aguentar-me o peso do corpo.
Sendo a população novamente prevenida, tornei a atravessar a cidade e
dirigi-me para o palácio, levando na mão os tamboretes. Quando cheguei a um
dos lados do átrio exterior, subi para um tamborete e segurei o outro. Passei este
por cima dos telhados e coloquei-o delicadamente no chão, no espaço que havia
entre o primeiro e o segundo átrio, que tinha oito pés de largura. Em seguida
passei muito comodamente por cima das construções, servindo-me dos
tamboretes e, quando me encontrei do lado de dentro, tirei com um gancho o
tamborete que ficara do lado oposto. Deste modo, consegui chegar até o átrio
mais interior, onde, deitando-me de lado, meti a cara por todas as janelas do
primeiro andar, que tinham deixado ficar abertas de propósito, e vi os mais
magnificentes aposentos que imaginar se possa. Vi também a imperatriz e as
jovens princesas nos seus quartos, rodeadas da sua comitiva. Sua Alteza imperial
dignou-se sorrir-me graciosamente e deu-me, pela janela, a mão para eu beijar.
Não pormenorizarei aqui as curiosidades que se encerravam nesse palácio;
reservo isso para obra de maior tomo e que está quase pronta a entrar no prelo,
contendo uma descrição geral desse império desde a sua fundação, a história dos
seus imperadores durante um longo número de séculos, observações sobre as
suas guerras, política, leis, literatura e religião do país, as plantas e os animais que
aí se encontram, usos e costumes dos habitantes, com muitos outros assuntos
prodigiosamente curiosos e excessivamente úteis. O meu fim agora é, apenas,
referir o que me aconteceu durante uma permanência de quase nove meses
naquele maravilhoso império.