Page 204 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
P. 204

ONTEM

                  Clay tem uma relação de amor e ódio com os viciados. Ele os odeia por
                serem  fracos,  sujos  e  terem  um  ar  de  desespero  que  os  empesteia  como

                cheiro  de  óleo  de  fritura.  Aquele  cheiro  de  suor  velho.  Os  olhos
                constantemente  vagos,  olhando  para  todo  lugar  menos  para  sua  cara

                enquanto  procuram  algo  para  roubar,  algo  que  possam  penhorar  para
                conseguir a próxima dose.

                  Mas  ele  os  ama  porque  são  muito  fáceis  de  controlar.  Umas  notas  de
                cinquenta,  algumas  gramas  em  um  saquinho  plástico  transparente,  e  eles

                fazem qualquer coisa que você pedir.
                  Ele segue seu caminho pelas ruas geladas, enrolado na sua velha jaqueta
                Duffel e no cachecol. Ah, mas ele vai fazer esses idiotas pagarem. Odeia ter

                de sair nesse tempo.
                  Entra em uma rua escura. A cerca de dez metros, vê um posto de gasolina

                e uma loja 24 horas. Um grupo de moradores de rua parasitas sem-teto se
                abrigam sob o telhado. Não apenas moradores de rua. Viciados também. Ali

                é onde um dos traficantes do Rei do Crime vende suas mercadorias.
                  O  Rei  do  Crime.  Clay  arrepia  de  medo  só  de  pensar  no  nome.  Nunca

                encontrou o cara – ninguém em seus círculos encontrou. Bem, com exceção
                de Larks. O Homem Quieto, que é como Clay gosta de chamá-lo.
                  Quieto e insano.

                  Mas só porque não é importante o bastante para conhecer o Rei do Crime,
                isso  não  significa  que  está  a  salvo  do  olhar  do  chefe.  Clay  sabe  que  sua

                última  mancada  pode  ter  chegado  aos  ouvidos  lá  de  cima.  Eddie  Boyd  é
                muito cabeça quente para deixar isso para lá. E sendo seu velho quem é…

                Clay  balança  a  cabeça.  Isso  vai  passar.  De  um  modo  ou  de  outro.  E  as
                pessoas – não necessariamente as pessoas responsáveis, mas alguém – vão

                ser culpadas por entornar o caldo. A única coisa que Clay pode tentar fazer
                agora é controlar. Tentar maximizar seu próprio lucro antes que tudo vá por
                água abaixo e certificar-se de que tenha como escapar.
   199   200   201   202   203   204   205   206   207   208   209