Page 210 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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ONTEM
– E agora garotos, tenham uma ótima noite, ouviram?
É isso que deixa Sally Santa à beira da loucura.
Ela segue Clay até seu apartamento em Manhattan depois do encontro no
estacionamento. Espera do lado de fora com um copo de café, observando
sua janela. Pode ver as costas dele enquanto o homem se senta à mesa.
Depois de passar uma hora no frio congelante, ele reaparece e entra em
um táxi.
Ela sempre odiou Clay. Desde que ele a tirou da rua pela primeira vez há
cinco anos. Ele é o pior tipo de parasita, alimentando-se dos fracos e
vivendo à custa dos fortes. Não faz nada por si mesmo. Não tem uma única
coisa em sua vida que não tenha vindo da dor ou do trabalho pesado de
outra pessoa.
Sally sabe que Clay pensa que ela e Sylvio são desses viciados que estão
sempre chapados, e deixa que ele pense isso. Algo que deve agradecer ao
seu pai – o único bom conselho que ele deu antes de partir com as mãos
cheias de sangue e todo o dinheiro da sua mãe.
Deixe que te subestimem, garota. Você sempre vai sair por cima se
acharem que você está por baixo.
De qualquer modo, a culpa é exclusiva de Clay. Ela teria ficado feliz em
dividir o dinheiro em três. Sessenta e seis por cento para ela e Sylvio. Nada
mais justo. Afinal, foi ideia dela roubar o pen drive. Ideia dela de abordar
Eddie Boyd e falar disso. E não passa um dia em que ela não agradece por
não ter ido ao encontro. Sempre se sentiu desconfortável perto de Eddie e
agora sabe por quê. Poderia ter sido ela morta no meio da rua.
Então, enquanto insere a chave na fechadura da porta do apartamento de
Clay, ela pensa que foi ele mesmo o causador de tudo isso. Tudo. Ela viu
nos olhos do homem. Ele não vai dividir o dinheiro. Nem um terço. Nem 50
por cento. Nem mesmo 10. Assim que Clay pegar o dinheiro, ele vai traí-
los. Então ela decide tomar providências.