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MEMÓRIA




          pensadores até o período recente. Eis as                                                                            Arquivo Nacional
          quatro escolas bases na nossa reflexão:
             a) Pensadores sociais e perspectiva
          de desenvolvimento nacional no pós-
          -abolição
             Importantes reflexões sobre as
          questões raciais estão sendo levantadas
          pelo conjunto da classe política, dos in-
          telectuais e da sociedade brasileira no
          início do século XX. A política de bran-
          queamento implementada pelo estado            A Escola de São Paulo, da
          brasileiro é um dos traços da constru-        qual Florestan Fernandes
                                                           (de pé,na foto) foi um
          ção racial no pensamento social. Um           percurssores, é um marco
          importante pensador da geração foi             na fundação das ciências
          Gilberto Freyre, sua obra Casa Grande e         sociais como campo do
          Senzala (1933) é um marco do período                  saber no Brasil
          pois apresenta a importância da “casa-
          -grande” e da “senzala” na formação so-
          cial e cultural da sociedade brasileira.  da cultura colonial (portuguesa) em   UNESCO, pois apresentam inúmeras
             Neste momento histórico, havia      território nacional e Gilberto Freyre,   perspectivas entre as relações raciais no
          um debate sobre as teorias racialistas do   autor de Casa Grande e Senzala, acima   Brasil que são bases de pesquisa até a
          século XIX muito presente no imaginá-  citado como representante da escola de   contemporaneidade.
          rio e na intelectualidade internacional   pensamento.                              O Projeto UNESCO teve caráter
          e nacional. Tal produção apresentava       b) Pensadores sociais e perspectiva   nacional e trouxe elementos sobre vi-
          distinção e classificação dos seres huma-  de raça da Escola de São Paulo      sões distintas do racismo no Brasil. Sua
          nos em sua condição biológica de um        A Escola de São Paulo é um marco    contribuição, neste ciclo de pesquisas, é
          processo colonizador. Neste período, o   na fundação das ciências sociais como   um marco da história das ciências so-
          processo de miscigenação que consistia   campo do saber no Brasil. Neste espaço   ciais brasileiras. A produção da “Escola
          em um processo de “mistura das raças”   foram institucionalizadas e promovidas   de São Paulo” apresenta a síntese de que
          presentes no país (negra, branca e in-  inúmeras pesquisas, que se tornaram    os resquícios de uma sociedade escravo-
          dígena) estava em voga e tal processo   referência no país e no mundo. A pes-  crata recente produziram desigualdades
          histórico apresenta uma síntese sobre   quisa que vamos analisar neste tópico   raciais  e regionais  importantes para  a
          a identidade nacional. Neste contexto,   foi o Projeto UNESCO, sobre as rela-  pesquisa  sociológica.  Tiveram  inúme-
          inúmeros autores buscaram apresentar   ções étnico-raciais no Brasil, realizada   ras interpretações. Florestan Fernandes,
          o Brasil para o mundo na perspectiva   na década de 50 do século XX. Estudos   por exemplo, apresentou que o precon-
          de síntese sobre identidade nacional,   dos professores Florestan Fernandes    ceito de ordem racial é fruto de uma
          que foi fortemente influenciada pelo   e Oracy Nogueira, lotados nos centros   sociedade escravocrata, logo assim, com
          contexto internacional de teorias so-  da Escola Livre de Sociologia e Políti-  surgimento e avanço da sociedade capi-
          bre raça. Cito os autores que tiveram   ca (ELSP) e da Faculdade de Filosofia,   talista, tal preconceito iria sofrer altera-
          um destaque em suas produções e até    Ciên cias  e  Letras  (FFCL/USP)  e  seus   ções ao longo da história até sua dimi-
          hoje são referência: Sergio Buarque de   orientandos são a base de pesquisas so-  nuição. Já o sociólogo Carlos Hasenbalg
          Holanda, com a obra Raízes do Brasil de   bre as relações raciais que foram patro-  tem  um  olhar  diferenciado  sobre  o
          1936, que aponta as heranças negativas   cinadas pela agência internacional da   mesmo fenômeno. Ele afirmou que o





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