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MEMÓRIA
Foto: Paulo Maldos
va muito dedicada à defesa dos direitos
humanos e dos direitos à autodetermi-
nação destes povos e Dom Pedro Ca-
saldáliga se torna uma referência nesta
defesa, com viagens freqüentes à região
centroamericana e visitas, inclusive, à re-
gião nicaraguense, onde os Estados Uni-
dos apoiavam os contrarrevolucionários,
os “contras”, que realizavam ataques bru-
tais às comunidades camponesas.
Foi neste contexto que Dom Pedro
Casaldáliga perdeu um grande amigo,
Dom Oscar Arnulfo Romero, Arcebis-
po de San Salvador, El Salvador, de-
fensor dos direitos humanos num país
em guerra, que denunciava a repressão
do regime e foi assassinado, em 24 de
março de 1980, por forças da extrema- Dom Pedro com Irmã Irene e Irmã Genoveva, que fizeram parte da Equipe da Prelazia
-direita quando rezava a missa numa
comunidade religiosa. no país num contexto de agressão e aos povos escravizados e sua luta pela
ameaça constantes do império norte- emancipação. Outra trincheira cultu-
“Menina precoce, -americano e com um histórico de re- ral para ele era a elaboração anual da
irmã primogênita lações complexas e conflituosas com a Agenda Latinoamericana, uma cole-
da Libertação Igreja Católica. Em seu encontro com tânea de textos sobre a conjuntura
que se conquista. Fidel Castro, este lhe pediu que deixas- do continente, sempre com um tema
Menina noiva do Dia prometido, se na Ilha, para o Museu da Revolução, central sendo abordado em cada edi-
batizada no sangue, suas sandálias, em troca de um par de ção, e com referências de datas e epi-
grávida de Esperança botas militares cubanas. Após esta vi- sódios significativos para história da
e violada! sita, declarou: “Também sou testemu- América Latina, do ponto de vista
Quero abraçar-te, América, nha das conquistas que o povo cubano dos setores populares.
por tua cintura ardente, alcançou na saúde, na educação, na Dom Pedro Casaldáliga nunca fi-
Centro-América nossa!” produção. Temos que abrir o coração cou distante de seu lugar fundamental,
poema do livro na proCura do reino, e o Evangelho a essa ilha admirável.” São Felix do Araguaia, nem se afastou
de dom pedro CaSaldáliga Junto com sua prática pastoral, das causas populares desta região, ten-
tanto na sua São Felix do Araguaia do participado de todas elas, fortale-
Suas viagens pela América Cen- como no Brasil e na América Lati- cendo-as e solidarizando-se com os
tral incluíram uma visita a Cuba, onde na, Dom Pedro Casaldáliga nunca movimentos populares, protagonistas
foi recebido por Fidel Castro e quan- deixou de produzir literatura e poe- centrais na sua atuação política. Em
do pode conhecer e dialogar a respeito sia, tendo criado com o poeta Pedro Ribeirão Cascalheira criou o Santuá-
dos valores cristãos, sobre a Teologia Tierra a Missa da Terra Sem Males rio dos Mártires da Caminhada, local
da Libertação e suas relações com os e a Missa dos Quilombos, a primei- de celebração das lutas populares e de
valores e práticas dos revolucionários ra dedicada à memória e à luta dos memória e reverência aos que nelas
que ousaram construir o socialismo povos indígenas, a segunda dedicada tombaram.
50 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020