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MEMÓRIA




                                                                                         milde na cidade e região que escolheu
                                                                                         para viver e atuar, mantinha as portas
                                                                                         abertas para visitas e diálogos em defe-
                                                                                         sa dos direitos da população.


                                                                                         “Plantei um jardim. Cultivo flores
                                                                                         em vasos e em latas.
                                                                                         Pratico a beleza inutilmente.
                                                                                         Rego as folhas verdes e seus gritos efêmeros.
                                                                                         Protejo-as da ventania,
                                                                                         do sol calcinador. Dou, cada dia,
                                                                                         três ou quatro olhares protetores,
                                                                                         e surpreendo a criação fazendo-se...
                                                                                         Elas nunca me disseram como sentem
                                                                                         este humano desvelo sem cobiças;
                                                                                         mas vivem, florescem, me acompanham;
                                                                                         atendem as visitas, gratamente,
          Dom Pedro (d.) com Pedro Tierra, nas Missões Jesuíticas, escrevendo a Missa da Terra Sem Males
                                                                                         como falando por mim, como dizendo-me;
                                                                                         circundam de paz o Araguaia,
            “Por onde passei                     governos  e  oligarquias  e,  por  vezes,   e balizam de esperas, de perguntas,
            sempre plantei                       questionamentos disciplinares por       de respostas, de cantos florescidos,
            a cerca.                             parte da hierarquia da própria Igreja   o horizonte longamente opaco.”
            Por onde passei                      Católica, em seus últimos períodos de   PlantEi um jardim
            sempre plantei                       conservadorismo papal e de cercea-      PoEma dE dom PEdro Casaldáliga
            a morte matada.                      mento aos defensores de uma institui-
            Por onde passei                      ção claramente comprometida com as          Essa postura de desprendimento
            Sempre matei                         lutas populares.                        ainda lhe custou mais uma ameaça de
            a tribo calada,                          Ao mesmo tempo em que foi radi-     morte, quase no final da vida, em 2012,
            a colheita suada,                    cal e intransigente nas suas opções de   quando o governo Dilma, obedecendo
            a terra esperada.                    vida e de prática pastoral, Dom Pedro   a decisão judicial, promoveu a retirada
            Por onde passei                      Casaldáliga nunca se fechou ao diálo-   de grandes, médios e pequenos invaso-
            sempre plantei                       go e à cooperação com o poder públi-    res da terra indígena Xavante de Ma-
            o nada, o nada, o nada.”             co, sempre em busca de pontos de con-   rãiwatsédé, localizada  naquela  região
                ConfiSSão do latifúndio          vergência que resultassem em benefí-    do Araguaia. Este crime de invasão
                poema de dom pedro CaSaldáliga   cio, em termos de avanços nas políticas   organizada, que teve suas origens du-
                                                 sociais, para os setores populares mais   rante a ditadura militar, em 1966, com
             Devido ao seu compromisso ra-       vulneráveis do campo e da cidade.       a expulsão da comunidade indígena
          dical e fraterno com os setores popu-      Isso ocorreu durante os governos    de seu próprio território para formar
          lares, Dom Pedro Casaldáliga  teve o   Lula  e  Dilma,  quando  Dom  Pedro     o  maior  latifúndio  do  país  na  época,
          reconhecimento e o respeito dos movi-  Casaldáliga, já fragilizado pelo Mal    a fazenda Suiá-Missu, havia sido far-
          mentos populares de todo o país e da   de Parkinson e pela idade, já retirado   tamente denunciado por Dom Pedro
          América Latina, assim como a suspeita   como Bispo Emérito de São Felix do     Casaldáliga, em entrevistas, documen-
          e a perseguição por parte de diversos   Araguaia, morando em sua casa hu-      tos e poesias.





                                                                                         ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020  51
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