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MEMÓRIA
“ Ao final do caminho me dirão:
- E tu, viveste? Amaste? E eu, sem
dizer nada,
abrirei o coração cheio de nomes.”
o Coração Cheio de nomeS
poema de dom pedro CaSaldáliga
Quando o governo federal finalizava o
processo de reparação à comunidade indíge-
na, devolvendo a terra aos Xavante, o Bispo
Emérito foi acusado de ser o mentor inte-
lectual daquela ação de governo e um plano
para assassiná-lo foi descoberto, tendo que
ser retirado de sua casa por alguns meses.
Dom Pedro Casaldáliga viveu e morreu
sob o signo da revolução permanente. Sua
vida foi uma caminhada incessante em bus-
ca de uma Terra Sem Males, sempre muito
consciente dos males desta terra que o aco-
lheu e onde inscreveu sua prática pastoral
e sua incidência política. Sempre buscou a
emergência e o protagonismo dos posseiros,
dos trabalhadores, dos povos indígenas, dos
camponeses, dos condenados dos campos e
das cidades, na história brasileira e latinoa-
mericana.
Peregrino e conhecedor de tantas terras,
seu território preferido sempre foi a Utopia,
desde sua Catalunha milenar até as aldeias e
comunidades camponesas de sua Amazônia
adotada, onde escolheu viver e morrer.
Dom Pedro Casaldáliga faleceu no dia 8
de agosto último, na Santa Casa de Batatais,
São Paulo, e hoje está plantado à sombra de
um pequizeiro em frente ao rio Araguaia,
num cemitério de indígenas e posseiros,
num último compromisso cumprido de
unidade com aqueles que, em seu combate
de toda uma vida, herdarão a Terra.
PAULO MALDOS é psicólogo.
Este artigo foi escrito em agosto de 2020
52 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020