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BR VOLUNTARIADO
PAZ PARA O
carioca não teve dúvida: “Malawi, campo de refugia-
dos”. Mesmo após ter ouvido de um diretor: “Todos
que optaram por esse local, no Malawi, desistiram”.
Conheça a história de Clarissa Paz, Claro que essa obstinada brasileira não vacilou.
jovem brasileira que deixou tudo para “Nunca me peguei em dúvida de nada. Praticamente
se dedicar ao voluntariado na África tudo na minha vida foi guiado. Não sei explicar”, diz,
com certo mistério.
Texto Maria Cláudia Miguel/FSF Campinas Foto Arquivo FSF No Malawi, encontrou uma realidade de extrema
miséria. “Os primeiros meses foram difíceis. Um dia,
C om a palavra “Paz” no sobrenome, e “Ubun- depois de percorrer os vilarejos, cheguei cansada,
vi que ainda tinha luz e decidi cozinhar. Preparei
tu” tatuada nas costas (bem antes de saber
que participaria da ação do mesmo nome),
Clarissa é coordenadora da Nação Ubuntu - tudo e quando comecei a separar os legumes, a
luz foi cortada. Chorei de angústia, de desespero.
projeto construído ao lado do Campo de Refugiados Nesse momento, alguém bateu na minha porta. Era
Dzaleka, no Malawi, país vizinho de Moçambique. um refugiado que tinha decidido vir compartilhar a
Criado em 2018, pela ONG Fraternidade sem sua história.” Depois de ouvir o relato, chorou, mas
Fronteiras (FSF), tem como desafio colocar 10 mil chorou pela dor do outro.
crianças em salas de aula. O Campo de Refugiados foi construído há 24
A carioca de 30 anos e, desde 2016, radicada anos. Começou com nove mil pessoas e hoje abriga
no Continente Africano. 51 mil, vindos principalmente do Congo, Burindi e
Ruanda. Dessa população, 22 mil são crianças e
Uma brasileira da paz 10 mil não têm acesso à escola por falta de vaga.
A história de Clarissa da Paz daria um livro de Os refugiados não podem sair e entrar na cida-
muitas páginas. Formada em Administração, deixou de sem permissão do governo. A energia elétrica
o trabalho numa multinacional, um bom salário, e fica disponível somente seis horas por dia e não
por estar sempre envolvida ao voluntariado, teve a há água. A alimentação mensal consiste em 2
ideia de associar sua experiência a uma causa social. quilos de feijão, 1 quilo de soja, 6 quilos de farinha
Começou a estudar pós-graduação em “Respon- de milho e 200 ml de óleo. “Aqui ninguém tem o
sabilidade Social Corporativa e as Organizações direito de sair, estudar ou trabalhar. A pessoa não
do Terceiro Setor”, no Rio de Janeiro. é mais uma pessoa. Vira número.”
Uma noite sonhou com crianças. Acordou com Como conseguem (sobre)viver? “Ubuntu”, diz
a certeza de que eram da África. Este momento rápida, decifrando o sentido da expressão: “Eu sou
foi decisivo e o continente passou a ocupar seu o que sou porque somos todos nós”. Ubuntu é uma
pensamento (e coração). “Nunca havia sido atraída antiga filosofia africana que promove a união, assim
pela África. Nem em safari”, brinca. “Mas de tanto como o compartilhamento do pouco que se tem.
pensar no assunto comecei a pesquisar sobre
trabalho social e encontrei uma especialização nos Uma nação de verdade
Estados Unidos, que oferecia seis meses de trabalho Para definir seu desafio no Malawi, Clarissa, com
na prática em países de extrema pobreza”. Já nos uma bicicleta, começou a percorrer as comunidades
Estados Unidos, na hora de selecionar o destino, a e em cada pedalada uma descoberta. Entre elas,
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