Page 9 - REVISTA BOAS RAZÕES ED 06
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Boas Razões – Hoje, a Fraternidade está em fraternos e das Costurinhas (confecção de enxovais
cinco países da África e ampliando frentes de para crianças) que são feitos por idosas em várias
trabalho no Brasil e em outros países. Quais foram cidades e que dão depoimentos fortes da alegria de
as maiores dificuldades nessa expansão? viver depois que encontraram a FSF, que estavam
AutA – Eu não sinto, até hoje, que a gente tenha sem motivação e até doentes, antes. Tem uma de
tido grandes dificuldades nessa caminhada. Tudo 91 anos que está reunindo pessoas, outra de 86
flui nessa fé, nessa amizade, nessa troca e Deus vai anos que está fazendo as costurinhas.
abrindo as portas. Nem dá mais para se surpreen-
der com a amplitude que já chegou. Por exemplo, Boas Razões – Me conte como foi a sua viagem
quando chegou o projeto de um orfanato no Congo para conhecer os projetos na África?
nós pensamos como poderíamos fazer pois está- AutA – Foi um milagre. Mas eu tenho muitos
vamos em plena pandemia, e ele aconteceu. Aqui milagres na minha vida, porque às vezes a gente
mesmo, em Mato Grosso do Sul, nasceu em plena pensa que milagre é algo sobrenatural e não é. São
pandemia o Projeto Curumin, que ajudou muitas ações de pessoas maravilhosas que fazem da vida
aldeias. É como se fosse a multiplicação dos pães. da gente um milagre. No início de 2019, eu disse
que iria para a África e me perguntaram como eu
Boas Razões – As caravanas estão retornando. iria. Eu respondi que não sabia. Então, uma madri-
Qual a importância delas para a manutenção nha ofereceu passagem para um de nós, da sede,
dos projetos? irmos para lá e numa reunião ficou decidido que o
AutA – Uma pessoa, que vai numa caravana, mais velho que ainda não tinha ido, iria. E calhou
quando volta, agrega de 10 a 20 pessoas com ela. de eu ser também a mais velha, em idade. E eu
Quando faz um evento, são 100 a 200 pessoas. ganhei a passagem.
A credibilidade e a seriedade dos trabalhos é que
alavancam essa capacidade de se multiplicar da Boas Razões – E o que mais impactou a senhora
Fraternidade. nessa viagem?
AutA – O que mais me impactou foi a alegria que
Boas Razões – Temos visto a chegada de muitos elas transmitem, não apenas as que nós atende-
jovens aos projetos. Como a senhora explica isso? mos. Eu lembro que nós fomos fundar um núcleo
AutA – Chegaram pessoas que agregam jovens, e aquelas crianças bem prejudicadas, transmitiam
como o Alok, que foi numa caravana. Ele fez uma uma alegria de viver que não tem explicação, que
grande diferença nesse público jovem. Quando ele não existe aqui no Brasil. Outro impacto grande
fazia um show e usava a camiseta da Fraternidade, é poder ver a importância do nosso trabalho. O
recebíamos 10 a 20 telefonemas por dia pedindo resultado é fantástico... ver nossos jovens indo
a camiseta que o Alok usou e assim fomos expan- para a universidade, aprendendo inglês. A gente
dindo também. É como se tivessem fios que vão percebe que não é uma ilusão, um sonho o nosso
conectando essas pessoas para elas chegarem até trabalho, é real. Por exemplo, ver os idosos nas
a gente. Aqui mesmo, na sede, temos dado oportu- casinhas deles, as crianças bem vestidas, cantando,
nidade de emprego para os jovens que passam um dançando, comendo, estudando, tendo rotinas, é
tempo aqui e depois vão em busca de crescimento muito gratificante.
profissional, é um trampolim para a vida.
Boas Razões – O que a senhora aprendeu com
Boas Razões – Muitos padrinhos e apoiadores essa troca de cultura?
da Fraternidade são idosos, aposentados, pessoas AutA – A gente aprende muito. Por exemplo, eles
da melhor idade como a senhora. O que isso sig- são muito solidários uns com os outros. Você vê um
nifica para vocês? pequenininho cuidando do irmão. Nós fomos a um
AutA – Para nós, idosos, que já estamos no lugar onde tinha mais de mil crianças e enquanto
fim da vida, que precisamos de um objetivo para a última não foi servida, elas não comeram. É uma
continuar a viver, é um motivo de esperança e de educação que a gente não tem, não é nosso hábito.
utilidade, pois temos muitos voluntários idosos. A Se um não tem uma colher, o outro já passa a sua.
Fraternidade é Vida! Temos o projeto dos cadernos Se existe fraternidade, ela existe na África.
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