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2ª fase da pesquisa: A freguesia da Sé no século Bahia. Essa documentação refere-se às principais
XIX – suas ruas, casas e pessoas obras realizadas na cidade por iniciativa do governo
provincial, apesar de feitas, na prática, por particulares,
Considerando o século XIX como provavelmente o
numa espécie de concorrência pública que assegurava
período de construção dos imóveis que foram objeto
a arrematação das obras diante do governo. Essa
da pesquisa arqueológica, e o volume de fontes
vastíssima documentação serviu para entendermos
encontradas nos principais arquivos da cidade de
como se deu o processo de urbanização da área da Sé
Salvador, procedemos ao levantamento de documentos
e suas imediações, palco de grandes obras como a rua
e trabalhos clássicos e atuais sobre a região específica da
ou estrada da Vala, antiga Baixa dos Sapateiros, atual J.
freguesia da Sé, bem como seu processo de povoamento
J. Seabra. A seguir destacamos um documento, a título
e urbanização durante o século XIX.
de exemplo:
A freguesia da Sé foi criada em 1552 por D. Pero Fernandes
Senhor Diretor Illustrissimo excelentissimo Senhor.
Sardinha. Era o centro do governo administrativo,
tendo chegado em tal ponto, com o desentulho
legislativo, judiciário e religioso da província. Nela
do rio das tripas, em que he indispensável passar
rivalizavam-se dois poderes na procura do domínio Rua da Vala, atual
por quintaes particulares, remover cercas e muros, J.J. Seabra (Baixa
espiritual e/ou material sobre os habitantes da cidade, dos Sapateiros).
profundar e alargar o [aluveo] do mencionado
principalmente no final do século XIX, quando a Igreja já Salvador, 1875
rio, e depositar nas margens o resultante material (Sampaio, 2005,
não se conformava com a preponderância civil. A Sé era
contra a opposição brutal de quase todos os p. 78).
onde se haviam instalado as mais importantes famílias
da província, mas já na primeira metade do século XIX
perdia a característica de freguesia elitista. Os sobrados,
onde viviam grandes famílias, transformavam-se em
moradas de muitos e se subdividiam em vários fogos ,
13
instalados em andares, lojas, sótãos e sobressótãos,
abrigando trabalhadores pobres, africanos e crioulos
libertos e até escravos de ganho. A freguesia da Sé,
contudo, era o centro da vida, o coração da cidade, onde
tinham representatividade os poderes institucionais.
De importância considerável nesta fase da pesquisa
foram as fontes da série Obras públicas, localizadas
na seção colonial do Arquivo Público do Estado da
13 Fogos são unidades domiciliares. As contagens
censitárias eram baseadas em número de fogos, não de 43
moradores ou imóveis.
Programa monumenta – IPhan