Page 114 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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No fundo do coração, cada um deles sabia: algumas vozes não se ouvem com
os ouvidos. O mar estava chamando — e eles estavam prontos para responder.
Caminharam pela faixa estreita entre a água e a vegetação, guiados apenas
pelas lanternas e pelo instinto. A cada passo, o som do mar parecia mudar, como se
modulasse sua voz — ora um lamento, ora um sussurro, ora um chamado.
De repente, Lívia parou. Seus pés afundaram levemente na areia fria, e ela
ergueu a cabeça, alerta. — Ouviram isso? — perguntou, com a voz tensa.
Theo e Miguel silenciaram. Não era imaginação. Vinha do oceano — um som
grave, profundo, quase como um cântico triste ressoando das profundezas.
— Parece... um coral cantando — disse Theo, com uma reverência quase in-
fantil.
Miguel franziu a testa, desconfiado. — Corais não cantam, Theo.
— Talvez não do jeito que conhecemos — respondeu Lívia, com um brilho
nos olhos. — Mas todo ser vivo tem uma frequência, uma maneira de existir...e talvez
de se expressar.
Aquelas palavras pairaram no ar, tão palpáveis quanto a bruma noturna que
começava a se formar.

