Page 146 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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Lívia, com o coração apertado, apertou a cápsula que carregava no bolso do
colete. — “Se o recife é o coração do oceano, isso aqui é sua ferida aberta.”
Ao desembarcarem na borda da ilha de plástico, o chão rangia. Era como
caminhar sobre um tecido tenso, feito de lixo comprimido. Cada passo afundava um
pouco — um colchão instável de tudo que a humanidade já descartou.
Lívia, de luvas e máscara, retirou um pedaço de embalagem semi-enterrada.
A data de validade dizia 1998.
— “Isso estava no mar antes de eu nascer,” murmurou.
Miguel apontou para uma tartaruga enroscada em uma rede. Noah correu
com cuidado, cortando os fios. A tartaruga, livre, mergulhou devagar para a liber-
dade, mas deixou para trás arranhões profundos no casco, uma cena difícil para os
guardiões.
Dona Yara olhava em silêncio. Seus olhos, que já viram tantas marés, agora
brilhavam de indignação.

