Page 43 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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Lívia, ainda com a máscara na testa, escutava em silêncio. As palavras do
    professor caíam sobre ela como ondas pesadas.


           Marta, mãe de Noah e oceanógrafa, que os ajudava a subir no barco, com-
    pletou com uma metáfora que saiu de seu coração de oceanógrafa:


           — O coral é como a fundação de uma cidade submersa. Sem ele, os peixes
    perdem seus lares. Os cavalos-marinhos perdem seus esconderijos. Tudo desmo-
    rona. Até o silêncio que vimos hoje… começa ali.


           Lívia sentou-se no banco de madeira, ainda molhada. Olhou para as mãos e
    pensou no pequeno caramujo transparente. Na rachadura. Na ausência.


           As lágrimas vieram sem barulho, e ela não tentou escondê-las, porque ali,
    naquele momento, chorava não só por tristeza, mas por entender. Pela primeira vez,
    sentia o peso real da missão que começava a carregar.


           Takashi se aproximou e, num gesto silencioso, lhe entregou uma toalha. Mas
    seus olhos diziam o que as palavras não podiam: “Você viu. Agora é uma guardiã.”





           Enquanto o aroma de peixe grelhado e arroz de coco se espalhava pela base
    de pesquisa, Lívia se retirou discretamente. Sentou-se na varanda de madeira, ilu-
    minada apenas pela luz suave de um lampião pendurado e pela lua que refletia no
    mar. O caderno estava em seu colo, como sempre, mas naquela noite, seus dedos
    hesitaram antes de tocarem o lápis.


           Respirou fundo. E então começou a desenhar.
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