Page 40 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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antes de tocar o fundo. O silêncio era mais profundo ali — não como o silêncio calmo
    do dia anterior, mas um tipo pesado, quase sufocante.


           Os corais estavam fantasmagóricos. Ramificações brancas como ossos, frá-
    geis como vidro. Muitos se desfaziam com o simples toque da nadadeira ou com o
    movimento da água. Lívia nadava devagar, boquiaberta por trás da máscara. Aquilo
    não era o que ela imaginava quando pensava num recife.


           “Cadê os peixes coloridos? Os cavalos-marinhos dançando entre os corais?
    Cadê o azul vibrante que pintava nas paredes do quarto?”, pensava. O que via ali era
    um mundo sem cor, sem vida.


           Mais à frente, algo chamou sua atenção: uma estrutura redonda, ranhurada,
    como um cérebro petrificado. Um coral-cérebro, enorme, rachado ao meio. As bor-
    das partidas revelavam o interior esfarelado, como um fóssil quebradiço.


           Noah nadou até ela, parando bem próximo. Seus olhos, por trás da máscara,
    refletiam espanto e tristeza. Ele pegou delicadamente um pequeno fragmento solto

    e analisou com sua lanterna. As cores desbotadas indicavam não apenas branquea-
    mento, mas morte há muito tempo.


           Ele fez um gesto com as mãos: “Totalmente calcificado”.

           Lívia observava tudo sem conseguir registrar uma palavra. Seu coração batia

    mais rápido. Aquilo não era só um recife doente. Era um cemitério.
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