Page 64 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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— Essa parte da história nunca foi publicada — disse Helena, enquanto acen-
    dia uma luminária amarela sobre a mesa. Sua voz soava quase como um sussurro,
    como se as paredes ali também tivessem ouvidos. — Mas talvez... esteja na hora.


           Com gestos cuidadosos, ela abriu uma gaveta forrada de tecido aveludado e
    retirou um rolo de papel amarrado por um cordão de couro. Ao desenrolá-lo, revelou
    um mapa do arquipélago datado de décadas atrás, coberto de anotações à caneta e
    marcações em vermelho desbotado.


           — Aqui havia um recife magnífico — apontou, os olhos umedecidos por lem-
    branças. — Era um jardim submerso... cheio de vida, de cor, de promessas. Hoje, só
    resta areia branca.


           Marta se inclinou, tentando assimilar o que via.


           — O que aconteceu com ele? — perguntou, num tom quase de reverência.


           Helena  respirou  fundo  antes  de  responder,  como  quem  mergulha  nova-
    mente em uma dor antiga:


           — Testes. Explosões submarinas. Uma época em que o mundo não ouvia o
    oceano... nem os que tentavam defendê-lo. Tudo foi silenciado. Literalmente.


           Ela tirou de uma pasta uma fotografia em preto e branco: uma embarcação
    militar ancorada próxima à costa, homens com roupas de mergulho, caixas de equi-
    pamento e, ao fundo, o que parecia ser o início de uma detonação controlada.


           — Muitos desses documentos foram arquivados... ou destruídos. O que eu
    guardei está aqui. E não é só sobre o recife. É sobre o que ele escondia.
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