Page 12 - Teatros de Lisboa
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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa


                                                       “Pateo da Bitesga”


                     «E' este o primeiro pateo de comedias, de que ha noticia em Portugal. Não se sabe a data exacta em
               que começou a funccionar; sabe-se apenas que existia em 1591, porque a 6 de julho d'esse anno começou o
               emprezario Fernão Dias Latome a pagar a parte que dos  espectáculos pertencia ao Hospital de Todos os
               Santos, pelo privilegio que este tinha de auctorisar esses espectáculos.
               Diversos investigadores contradizem-se sobre ser o Paleo da Bitesga o mesmo que depois se chamou Pateo
               da Mouraria ou Theatro da Mouraria. Querem uns que não, porque a rua da Bitesga era a mesma que hoje
               existe e a Mouraria começava mais além; mas affirmam outros com razão que não era crivei que n'aquella
               epocha existissemdois theatros tão próximos um do outro.
               Nunca se encontraram referencias aos dois na mesma epocha. Em que sitio da rua da Bitesga era o pateo, ou
               theatro, nunca se poude apurar.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

               Por outro lado Theophilo Braga no seu livro “Historia do Theatro Portuguez” de 1870, escrevia:
               «Sabe-se que o Pateo da Bitesga já funccionava a 11 de Julho de 1594, por isso que pelo registo do Hospital
               se vê n'esta data o seguinte recibo: «da caixa de Manoel Rodrigues, das comedias da Bitesga, 2$320.» Como
               competia ao Hospital de Todos os Santos, pela escriptura da fundação do Pateo, as duas quintas partes do
               que rendesse, vê-se por este recibo, que a recita produzira liquidos 5$800 reis; o que era um bom resultado,
               se attendermos ao valor da moeda no seculo XVI. Se a este producto do mez de Julho de 1594, ajuntarmos as
               duas quintas partes dos lucros produzidos em Novembro e Dezembro d'este mesmo anno, e em Janeiro e
               Fevereiro de 1595, que foram 85$130, temos 87$450 reis, vêmos que o producto total foi de 394$800 reis.
               Esta simples indicação da economia do nosso theatro no fim do seculo XVI, quando a nação estava enlutada e
               pobre,  basta  para  revelar  quanto  o  Pateo  da  Bitesga  era  frequentado,  talvez  pela  novidade  dos  seus
               espectaculos, que então seriam o ecco da côrte de Madrid, e ao mesmo tempo, descobre-nos a sua grandeza.
               A este Pateo tambem se julga ter sido dada a denominação de Pateo da Mouraria.».


                                                “Pateo das Fangas da Farinha”


                     «Existiu no local em que hoje é o tribunal da Boa Hora e antes foi convento de frades da Ordem de
               Santo Agostinho, sob a invocação de Nossa Senhora da Boa Hora. Foi fundado por D. João Hiranço e Luiz de
               Castro, no anno de 1619, por occasião das festas com que em Lisboa foi recebido o rei D. Filippe III. D. João
               Hiranço era sobrinho de Fernão Dias Latome, o fundador dos pateos da Bitesga e da Rua das Arcas; Luiz de
               Castro era senhor da Casa de Barbacena e possuia um palácio nas Fangas da Farinha, no qual se fabricou o
               pateo. Durou muito pouco e com vida tormentosa pelas desavenças entre o senado, o hospital e o proprietário.
                     O Pateo das Fangas da Farinha nunca teve popularidade. Em 1633 Luiz de Castro fez doação d'elle a
               uns religiosos, que  transformaram os camarotes  em pequenas cellas e  o palco ou tablado  em capella.  Os
               padres hibernios ali estiveram até 1659. Entraram depois os padres do Oratório até 1674.
               Por fim, por doação, entraram na posse do pateo os Agostinhos Descalços, que ali fundaram o Convento de
               Nossa Senhora da Boa Hora. Nada absolutamente se sabe sobre os espectáculos
               que foram dados no Pateo das Fangas.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).


                                                   “Pateo da Rua das Arcas”



                     «No cartorio do Hospital de S. José só se encontra rendimento d'este pateo de 1601 em deante. Sabe-
               se que, por escriptura de 31 de maio de 1593, Fernão Dias Latome comprou ao commendatior D. Diniz de
               Alencastre umas casas e quintal que possuia na praça da Palha e rua das Arcas. Esta compra foi para cumprir
               o contracto com o Hospital de Todos os Santos, em que, por escriptura de 9 de maio de 1591, se obrigou a
               construir dojs pateos em sitios convenientes.

                     Foi o primeiro o Pateo da Bitesga e o segundo o Pateo da rua das Arcas. Este contracto durou até 1698,
               em que o Hospital adquiriu a propriedade do pateo. Durou portanto mais de um século. A este pateo vinham
               frequentemente companhias hespanholas com actores notáveis. Também ali se representaram as notáveis
               comedias de Jacintho Cordeiro. Por documentos que existem no cartório do Hospital de S. José vê-se : que o
               Pateo das Arcas  estivera por bastante tempo como propriedade dos frades  do  Carmo; que  os prédios

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