Page 24 - LIVRO - A VIDA TEM DESSAS COISAS
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A MORTE DE PAI LUIS
A gente vê um pequeno pássaro caído no chão com a barriguinha pra
cima e as patas duras erguidas debaixo de um poste de luz a sol a pino é uma
cena muito triste. Pelo menos foi assim que me senti. Não foi uma imagem
nenhum um pouco agradável, apesar de o pequenino ter morrido há pouco e
ainda conservar a beleza das penas em cores. Mas estava morto, e isso deixava
o espetáculo triste.
Quem o que teria tirado a vida a esse pequeno pássaro? Morreu de
morte natural ou de tristeza de estar preso enquanto via ou sabia que seus
companheiros pululavam de galho em galho voando de dia e de noite a céu
aberto e se recolhiam aos galhos à noite para dormir e de manhã cedo sair
para viver, enquanto ele estava preso numa gaiola voando apenas alguns
centímetros?
Algo em mim dizia que aquele passarinho não morreu de morte natural.
Velho. Tendo cumprido seus dias sobre a terra. Ou sobre o ar.
Acho que a minha desconfiança nasceu de um fato que presenciei dias
atrás.
Uns meninos sentados num banquinho encostado no muro de suas
casas em dia de chuva (a chuva tinha dada uma trégua) e com apitos na boca
apitavam a todo fôlego em direção a uma mata de frente de nossas casas.
Simulavam com os apitos o som do canto do Pai Luis. Os bichinhos
que dizem (ou diz a lenda) só saem à noite em tempo de chuva e nos dias
quentes passam o tempo enterrado na areia debaixo de algum milharal ou
alguma árvore, se confundiam com os apitos achando que era um amigo da
mesma espécie chamando por eles.