Page 135 - ASAS PARA O BRASIL
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Com efeito, ela menciona as teorias dos “dois Brasis” com as de Celso
                  Furtado  no  qual  ele  chama  de  “Bel-Índia”  essa  divisão  da  sociedade
                  brasileira, com uma parte da população que seria mais comparável à da
                  Bélgica  –  fazendo  referência  ao  Brasil  moderno,  cidadão  e  rico  –  em
                  contraste com outra parte mais próxima da sociedade indiana – o Brasil

                  dos miseráveis excluídos por um sistema de apartheid social.

                  Rita Laura Segato salienta a importância de se entender que esta clivagem

                  da sociedade brasileira não coincide sempre com o critério étnico.

                   Temos  de  ser  capazes  de  identificar  as  problemáticas  da  questão  racial

                  dentro desta equação nacional, para não cair numa visão extremista, que
                  reduziria a realidade do Brasil somente às desigualdades raciais.


                   Uma visão que, em longo prazo, poderia ser perigosa para o país.

                  A “dívida social da escravidão”.


                  Entre  as  teses  que  defendem  o  reconhecimento  da  questão  étnica,  se
                  inscreve a da “dívida social da escravidão”.


                         Uma grande parte da população negro-mulata está confrontada com as
                  desigualdades  econômicas  e  sociais  das  quais  ela  dificilmente  consegue

                  escapar  e  nas  quais  ela  foi  colocada  de  fato  após  a  abolição  do  sistema
                  escravagista em 1888. Daí a ideia de uma reparação que o país deveria à
                  população não branca. Há muitas gerações que o Brasil é considerado na
                  França como um modelo de sucesso multicultural e multirracial por nossos
                  intelectuais.


                  É um contra verdade que certos partidos políticos mantiveram em seus
                  discursos eleitorais usando a expressão diversidade cultural!


                                                      Os Índios


                      Minha esposa tem orgulho de ser índia, ela nasceu em Mossoró cidade
                  da resistência ao bando de Lampião, mas no Brasil, é melhor não se dizer
                  índio. Se você diz a alguém que ele é índio, ele corre o risco de não se sentir
                  à vontade, vexar-se ou até mesmo ofuscar-se.


                  Meu falecido primo Gilles de Bure, escritor, jornalista e fã de arquitetura
                  contemporânea, me disse uma vez que nossa linha de sangue era um quarto
                  "mapuche" literalmente "Povo da Terra" aborígenes do Chile onde meu pai
                  nasceu e foi criado antes de vir para a França.
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