Page 83 - Nos_os_bichos
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Ainda assim, Lobito continuou o seu caminho, pouco esperançado de
conseguir fazê-lo por muito mais tempo…
Passados uns dias, já desesperado, o nosso jovem lobo encontrou uma
pantera negra que também parecia solitária. Foi então que se encheu de coragem e
foi falar com ela.
Era uma pantera sociável e, portanto, foi fácil o lobito convencê-la a juntar-se a ele. Para além disso, ela
tinha um amigo que estava disposto a fazer a migração com eles. Tratava-se de um conhecido de lobito, que
este já não via há imenso tempo, pois estava sempre em migração. Esse amigo era um felino, mais precisamente
um lindo e esbelto leopardo com as suas pintas bem definidas e o focinho grande, com ar de predador furtivo.
Quando se avistaram, imediatamente se reconheceram e falaram de como estavam diferentes. Da última vez
que se tinham visto, eram ainda crianças e, por isso, só se reconheceram por pequenas marcas dos seus lindos
corpos.
Depois de uma longa conversa, puseram-se os três a caminho, para encontrar a matilha. Passados
apenas alguns quilómetros, Lobito percebeu que aqueles amigos que ele encontrou ao longo do seu curto
caminho eram os amigos que estavam dispostos a fazer tudo para o ver feliz, pois houve entre eles uma sintonia
imediata, como se fossem irmãos, como se corresse entre eles o mesmo sangue. Ora, isso levantava um
problema: quando encontrassem a sua matilha, provavelmente ela iria pôr de parte estes seus amigos que
pertenciam a uma outra espécie. Então, o lobo tomou a decisão mais difícil da sua vida: ficaria com a pantera
negra e com o leopardo, pois eram estes os amigos que estavam dispostos a tudo para o ver feliz e ele também
os queria ver felizes.
Na verdade, Lobito já sabia no seu íntimo que não precisava de amigos que fossem obrigatoriamente da
sua espécie, mas sim de amigos que gostassem dele, mesmo que não tivessem o seu aspeto nem fossem da
sua raça. Foi assim que o lobo encontrou amigos para a vida.
Tomás Gaspar
FIM
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