Page 20 - Revista Patrimônio
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Ao embarcar na barca “ao lado da Companhia
Ferry”, no centro do Rio de Janeiro, Moreira Pinto
navega em busca do fundo da Baia de Guanabara, e
descreve as várias ilhas que vão desfilando em sua
passagem, detendo-se com comentários na Ilha de
Paquetá, onde lembra que ali foi o lugar de refúgio do
“venerando José Bonifácio, de 1832 a 1838, e do ilustre
Evaristo da Veiga”. Recorda que serviu de cenário ao
romance “A Moreninha, mimoso romance do meu
saudoso mestre Dr. Joaquim Manoel de Macedo”.
Ao se aproximar do porto, descreve-o como um
lugar ermo e “notável pela sua extrema fealdade. Do mar
não se avista o povoado por interpor-se o morro da
Piedade”. Registra a existência das oficinas da Estrada
de Ferro de Teresópolis, “umas três vendas, 37 casas e
uma capelinha da invocação de Sant`Ana. Está edificada
sobre charcos, onde abundam caranguejos, com que se
alimenta a população”.
Ali se iniciava essa Estrada de Ferro, “cujos
trabalhos foram inaugurados em outubro de 1895, sendo
aberto o tráfego da Piedade a Raiz da Serra”,
percorrendo até Magé sobre uma região “ora charcosa,
ora arenosa, abundando nesta, as pitangueiras, as
goiabeiras e os cajueiros”.
Depois de atravessar uma ponte de ferro sobre o
rio Magé, depara com uma cidade “de feio aspecto...
toda cercada de pântanos, o que torna seu clima
insalubre e doentio”. Acha sua topografia irregular
constando de becos e vielas. “Tem apenas três ruas
largas e compridas, sendo as demais pouco extensas e
estreitas todas elas sujas, tortuosas e sem calçamento,
nem iluminação, nem passeios”.
As casas térreas e assobradadas são todas de
“gosto antigo e muito danificadas”. Ao percorrer a Rua
da Matriz, “a principal da cidade, larga e arborizada”,
descreve a cidade como sendo “feia, triste e decadente”.
Sem a presença da fábrica de tecidos “ela seria um
amontoado de ruínas”, justificando seu estado “pelas
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