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cultura e para sua terra. Na carta dos Guarani Kaiowá, são os índios que olham para nós.
Devolvem simbolicamente, mais de cinco séculos depois, o olhar. O que nos dizem aqueles
que nos veem? (Ou o que veem aqueles que nos dizem?)
37
A declaração de morte dos Guarani Kaiowá é “palavra que age” . Antes que o espasmo
de nossa comoção de sofá migre para outra tragédia, talvez valha a pena uma última
pergunta: para nós, o que é a palavra?
22 de outubro de 2012
36 Este texto respeita a forma como os indígenas grafam o seu nome, com “k” e “w” — e sem acrescentar o “s” ao usarem o plural.
37 A carta dos Guarani Kaiowá foi divulgada pelo Twitter e pelo Facebook, gerando uma rede de solidariedade e de denúncia das violências enfrentadaspor
essa etnia indígena. Desta rede, participaram milhares de brasileiros urbanos. Para muitos deles, este foi o primeiro contato com o Genocídio Guarani
Kaiowá, apesar de o processo de extermínio da etnia ter se iniciado muito tempo antes. De repente, pessoas de diferentes idades, profissões e regiões
geográficas passaram a falar diretamente com as lideranças indígenas, no espaço das redes sociais, sem precisar de nenhum tipo de mediação. E de
imediato passaram a ampliar suas vozes. A partir dessa rede de pressão, as instituições — Governo Federal, Congresso, etc — foram obrigadas a colocar
a questão na pauta. Depois de dias, em alguns casos semanas, a imprensa repercutiu o que ecoava nas redes. Alguns dos grandes jornais enviaram
repórteres para a região, colunistas escreveram artigos com diferentes pontos de vista. O movimento de adesão à causa Guarani Kaiowá nas redes
sociais — sua articulação, significados e consequências — tornou-se um fenômeno fascinante, ainda por ser mais bem estudado e compreendido. Eliane
escreveu uma outra coluna, em 26 de novembro de 2012, intitulada “Sobrenome Guarani Kaiowá”, para refletir sobre a novidade. Esse texto pode ser
lido na internet.