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mais uma vez e sempre outra vez. É o vazio, afinal, que nos faz inventar uma vida humana —
        e não morrer antes da morte.

          É  o  que  fazemos  como  pais  nesse  momento  em  que  um  filho  descobre  o  vazio,  um
        momento mais importante do que a primeira palavra ou o primeiro passo ou o primeiro
        dente, que também nos torna pais. É preciso aguentar. Saber aguentar e escutar a dor de

        um filho, sem tentar calar com coisas o que não pode ser calado com coisa alguma, é um ato
        profundo de amor. Um momento sem palavras em que nosso silêncio diz apenas que a tarefa

        de criar uma vida que faça sentido é dele, pessoal e intransferível. E tudo o que poderemos
        fazer é estar mais ou menos por perto, ainda que nada possamos fazer. E um dia, talvez,
        receber uma carta/e-mail na qual está escrito: “Mãe: o que eu sempre vi em você era uma

        pessoa que não desistia do próprio desejo. E que nunca deixou a vida matar a vida”.
          Afinal, o que legamos a um filho é o nosso movimento em busca de sentido. E este não

        pode ser um arrastar-se de zumbi.
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        Memória é tanto lembrar quanto esquecer

















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        Na primeira vez em que assisti a E se vivêssemos todos juntos?               , pensei, ao sair do cinema

        com os olhos mareados e a alma apertada no corpo como uma calça jeans dois números
        menor: queria tanto escrever sobre esse filme, mas o melhor que posso escrever é só um
        verbo, conjugado no imperativo, seguido de um ponto de exclamação: “Assistam!”. E escrevi

        exatamente isso no Twitter. Em geral, é o melhor que podemos dizer sobre os filmes de que
        gostamos, assim como “leiam!” para os livros que nos tornaram outros depois da última
        página.  Mas  continuei  desassossegada  e  fui  uma  segunda  vez  ao  cinema.  Percebi  que

        precisava escrever um pouco mais.
          E  se  vivêssemos  todos  juntos?  é  um  filme  sobre  os  últimos  anos  de  quem,  graças  ao

        aumento da expectativa de vida, passou dos 70 e poucos. Como disse Jeanne, a personagem
        de Jane Fonda, ao seguir a ambulância que carregava seu marido para o hospital, depois de
        uma queda: “A gente planeja tudo, mas nunca pensa no que fazer nos últimos anos da vida”.

        É disso que se trata. O filme fala de algo que precisamos falar mais: sobre envelhecer nesse
        mundo, nessa época. Precisamos falar mais porque a maioria de nós vai viver esse momento.
        Não é fácil vivê-lo — é uma sorte vivê-lo.
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