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Unidade I
Era um ser encardido, cujos trapos em forma de saia não bastavam para defini-la como
mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho.
Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.
De súbito pareceu à dona de casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro,
sem tirar dela os olhos. Ergue-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que
ela se aproximava lentamente: já atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos,
sempre a olhá-la, em desafio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra,
iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco
sumia-se pelo portão.
Lá no terraço o marido, fascinado, assistiu a toda acena. Não durou mais de um ou
dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que
antecedem um combate.
Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.
(SABINO, 1976).
Comentário: Nós captamos uma ou várias informações dadas pelo texto, reconhecendo as expressões
e os recursos da língua utilizados, de acordo com a noção que possuímos dessas informações. Apenas
para exemplificar sobre as possíveis inferências, vamos recuperar a segunda parte do texto:
Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro,
comprometesse tanto a paisagem.
Dependendo do conhecimento experiencial adquirido no meio social e cultural, a segunda parte
destacada da crônica, em especial à pergunta “Como são barracos grotescos”?, pode ser inferida como:
• feitos de papelão; pequenos; pobres; um quartinho só; quarto, sala e cozinha em um cômodo só;
sujos e sem fundos; casas que são feitas de pedaços de madeira; dorme todo mundo amontoado
etc.
• favela é onde moro, um lugar cheio de barracos e becos; morro só não tem asfalto, porque tem
Revisão: Leandro - Diagramação: Léo - 14/07/2011 favela e nela são inferidos fragilidade, espaço e pobreza. Na segunda, o ponto de vista é de quem mora
luz, água, posto médico, posto policial etc.
São dois pontos de vista. Na primeira inferência, trata-se do ponto de vista de quem é exterior à
na favela e pode, como no exemplo, associar pobreza a um certo conforto.
Caro aluno, faça uma comparação entre suas inferências com as dos colegas para verificar os
diferentes pontos de vista.
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