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Capítulo 5

                    Segundo Diegues:

                           Não é por acaso que dirigentes do ICMBio, hoje (2015) voltam à
                           carga afirmando que o melhor lugar institucional para as uni-
                           dades de uso sustentável é o INCRA ou o Ministério do Desen-
                           volvimento Agrário e não o Ministério do Meio-Ambiente. Essas
                           afirmações são um grave retrocesso ao que foi conseguido por
                           Movimentos Sociais, durante décadas de oposição à uma política
                           preservacionista autoritária e pouco eficaz (DIEGUES, 2015, s.p.).

                    Nesse sentido, cabe lembrar que “a destruição da vida selvagem e flores-
                    tas hoje têm relativamente pouco a ver com as espécies em si, mas é de-
                    corrência das relações entre a população e a natureza e das relações entre
                    as pessoas” (DIEGUES, 1998, p. 150).

                    De uma maneira geral, no intuito de estimular a reflexão do leitor, e na
                    tentativa de nos aproximarmos da perspectiva da população quanto à
                    instalação de unidades de conservação, transcrevo um trecho de uma en-
                    trevista realizada com um casal de moradores de Regência:

                           Entrevistador: Você acha que essa reserva vai, vai fazer o que
                           aqui?

                           Interlocutores: Vai... morrer, como a minha terrinha morreu, Bar-
                           ra de Caravelas.

                           E: Você é de Caravelas?

                           I: Sou. Como Caravelas morreu, como Canavieiras morreu, tá?

                           E: Morreu como?

                           I: A pessoa em si vai se reprimindo diante da situação, porque
                           não pode isso, não pode aquilo, não tem isso, não tem aquilo. O
                           comércio morto, não tem... não tem gente, não tem. Não tem tu-
                           rismo, não tem... não tem visitante, então não tem nada, tá. Quem
                           vive de pesca vai ser limitado a pescar. De que que o povo vai
                           viver aqui em Regência? Me fala? Vai ter muita gente indo embo-
                           ra, Regência vai ser abandonada, no meu ver, entendeu?! Vai ter
                           muita gente indo embora.





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