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Capítulo 5
de Regência, e ouvimos relatos de moradores queixando-se de que não
estão incluídos em alguns processos decisórios que consideram apenas o
núcleo da vila de Regência.
Não é simples propor com exatidão a visão que as comunidades têm so-
bre os órgãos ambientais e projetos instalados na região. O próprio Plano
de Manejo da REBio Comboios sugere que:
No contexto dessa população, a reação à Reserva, então, confun-
de-se com sua reação frente às realizações e censuras feitas pelo
TAMAR. A proibição total da captura à tartaruga, a fiscalização
da pesca em determinados pontos da Zona de Transição e perío-
dos de reprodução, entre outros, afeta negativamente a imagem
da Reserva (IBAMA, 1997, s.p.).
É importante ressaltar que não há intenção de quantificar ou emitir
qualquer juízo de valor perante os órgãos citados, mas, antes, tem-se o
intuito de entender os impactos que as comunidades da região relatam
sofrer perante as ações desses órgãos. Em relato, um morador de Regên-
cia afirma que:
Antes as pessoas não precisavam de órgãos pra poder sobreviver,
simplesmente eles viviam da agricultura familiar, deles mesmos.
Colhiam e plantavam, entendeu? Fazia parte da conduta deles
saírem cedo, caçar, pescar, hoje a pessoa é privada de tudo, agora
a pessoa não pode nem tomar um banho numa lagoa! Entendeu?
Vocês acham que isso, na cabeça de umas pessoas mais velhas se-
ria bom? Ah, chegar uma unidade de conservação, você não pode
cortar nem o ganho do... seu lote porque se não, você vai acabar
sendo punido!
[Entrevista realizada pela equipe do Grupo de Estudos e Pesqui-
sas em Pesca e Desenvolvimento no Espírito Santo (GEPPEDES)
em Areal, em novembro de 2016].
Dentro do contexto apresentado, é possível perceber que as comunidades
têm sido historicamente restringidas de suas práticas. Assim, reclamam
do aumento da fiscalização e da escassez de atividades ligadas à educa-
ção ambiental por parte do ICMBio/IBAMA/TAMAR, afirmando que a
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