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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               Diante de tais fatos, ressurge, na comunidade, o interesse e a preocupa-
               ção com os rumores a respeito da possível instalação de outra unidade de
               conservação, tratada entre a população, de modo mais indistinto, como
               reserva. Considerando que a comunidade alega falta de informação e es-
               clarecimentos sobre o assunto, e isso está alinhado aos processos jurídi-
               cos que tramitam no contexto pós-rompimento, é quase inevitável o sur-
               gimento da insegurança ao levar em conta as experiências das relações
               prévias com agentes dos órgãos gestores e suas ações na comunidade. Um
               exemplo aparece no relato da moradora que afirma que “[...] a última fala
               dele [do agente ambiental] foi o seguinte: queira vocês ou não, essa reser-
               va vai sair, está no acordo, tá? Então queira[mos] nós ou não essa reserva
               vai sair, porque já está no acordo” [Entrevista realizada pela equipe do
               Grupo de Estudos e Pesquisas em Pesca e Desenvolvimento no Espírito
               Santo (GEPPEDES) Regência Augusta, novembro de 2016].
               As comunidades da foz do Rio Doce são distritos rurais com uma popula-
               ção reduzida, isto é, comunidades onde “todos se conhecem”. Diante disso,
               a imagem do ICMBio/TAMAR é vista de forma negativa por uma parcela
               da população que personifica as ações de agentes que atuam diretamente
               com a comunidade, em especial dos sujeitos atuantes na gestão da UC já
               consolidada (REBio Comboios), e que são os articuladores das propostas
               subsequentes. São associados ao ICMBio/IBAMA/TAMAR fatos como:
               (1) a proibição da pesca (no rio e no mar / antes e depois da lama):

                       Eu sempre questionei isso e num acho certo, o material que eu
                       tenho lá eu compro e pago, eu pago imposto pelo material que eu
                       tenho, aceito sim uma conversa, mudar, botar menas rede, mudar
                       a malha, concordo né, que eu posso tá errado, mas não chegar e
                       me proibir de pescar ou parar um mês, digo assim eu concordo
                       em relação a ter uma conversa, não chegar e proibir você de fazer
                       uma coisa que você aprendeu desde criança entendeu?

                       [Entrevista realizada pela equipe do Grupo de Estudos e Pesqui-
                       sas em Pesca e Desenvolvimento no Espírito Santo (GEPPEDES)
                       em Regência Augusta, em novembro de 2015].
               (2) as restrições das práticas de extrativismo diretamente ligadas à dieta
               da população e as possíveis mudanças na saúde, como trata um morador




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