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Capítulo 8

                    no “inside” tem lama: análise a partir da
                    perspectiva dos surfistas de Regência após

                    o rompimento da barragem de fundão





                    Marianna Gonçalves de Paula


                    INTRODUçãO
                       Localizada na foz do Rio Doce, em Linhares (ES), a Vila de Regência é
                    uma vila tranquila, que atraía muitos turistas por suas ondas conhecidas
                    nacionalmente para a prática de surfe, pela festa do Caboclo Bernardo,
                    pelas bandas de congo, e também por ter a base do Projeto Tartarugas
                    Marinhas (Projeto TAMAR) (CREADO et. al., 2016; CREADO, 2017; LEO-
                    NARDO et al., 2017). Destino principal dos surfistas brasileiros, o uso das
                    ondas de Regência para o surfe foi alterado após o rompimento da bar-
                    ragem em Bento Rodrigues, Mariana (MG), em novembro de 2015, o que
                    afetou o Rio Doce e, consequentemente, a Vila de Regência.
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                    Após o evento da lama , considerado o maior desastre/tragédia socioam-
                    biental do Brasil, os moradores da Vila de Regência que dependiam estri-
                    tamente do Rio Doce se viram ameaçados. Os impactos são muitos, sejam
                    eles a “escassez de água, inviabilização da pesca, inviabilização do surf ou
                    esportes aquáticos, diminuição das atividades do turismo, contaminação
                    das lavouras” (LOSEKANN et al., 2016, p. 7), bem como a violação de di-
                    versos direitos dos moradores e conflitos com as empresas responsáveis
                    pela barragem de rejeitos (Samarco/Vale-BHP).
                    A maioria das atividades econômicas em Regência era direta ou indireta-
                    mente ligada ao Rio Doce. Em um relatório divulgado pelo Greenpeace


                    1  Após o rompimento da barragem, acadêmicos e locais tratam o acontecimento como um
                    “evento da lama”. Tal termo deve ser associado a um evento crítico continuado, que ain-
                    da está em processo (MILANEZ & LOSEKANN, 2016). Segundo Silva e colaboradores
                    (2017), “Um evento crítico pode ser analisado enquanto processo, e, portanto, as situações
                    sociais escolhidas especificamente para descrição e análise aqui são parte de um escopo mais
                    amplo de desdobramentos e reações ao rompimento e à dispersão dos rejeitos de minera-
                    ção.” (p. 4). Os eventos críticos como processo já foram apontados por Silva (2012).




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