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EU MENINO III
Oblíquo colibri menino,
Olhos intensos, enegrecidos, avaros,
Duros e hipnóticos pedintes.
Filho matutino do tempo,
Deitava-se sobre a relva,
Enquanto assentava-lhe a alma
Uma réstia de sol sustenido;
Ouvia, atento e curioso, o canto de outros passarinhos;
Levantava, corria e saltava galhos de mangueira
Como pulasse corda sobre a estrela de Centauro.
Oblíquo colibri menino,
Cabelos cingidos tingidos, graúno curumim,
Camisa alva alvoroço alvorecer,
Havia em seu semblante um enigma,
Menino pássaro que o canto enleia,
Espargia aventuras pelo quintal, seu mundo,
Enfiando-se entre folhas,
Na companhia de obtusos sapos;
Escondia-se dos outros pueris soldados;
Confundia-se entre plantas agrestes;
E em danação, papel deixado ao acaso,
Entregava-se a libertinagem brincante dos ventos.
Oblíquo colibri menino,
Boca reticente, mameluca, declinava mistérios;
Não media palavras, palavroso, palavrões palavrava.
Cabeça oca,
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