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FIGUEIRA-DA-ÍNDIA
quando um pueril e afobado colibri
recosta, distraidamente,
o seu dorso, leve e agreste,
sobre a flor do cajueiro;
quando amarelifica-se o juazeiro
e pende, ao sabor dos aconteciventos, os noviços galhos do
araçazeiro;
quando o fruto da palma, a tudo que é vivo, a alma acalma;
quando um mamoeiro reacende sonhos subcutâneos
e uma teimosa goiabeira ensaia os seus primeiros bocejos
extemporâneos;
quando é primavera no sertão
– aos olhos de quem vê –
tudo é, entre rareadas brumas
e louva-a-deuses desengonçados,
encantamento e contradição.
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