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POETA PASSARINHO

              sou um poeta só,
              preso
              à condição de passarinho,
              bico, replico, complico...
              nesse meu desajeitado caminho.
              sou um poeta só,
              preso
              ao fraque negro de passarinho,
              vivo entre gravetos secos, meu ninho,
              às vezes invado a casa
              onde mora o querer do joão-de-barro
              e me ponho, distante e macilento jarro.
              se voo, é porque sofro por não ter nascido peixe,
              se canto, é porque padeço da sina do sofrê.

              sou um poeta só,
              preso
              à danação dos ventos,
              mora em mim o sol das zonas descampadas,
              gosto de pousar sobre cactos imprevistos,
              alimento-me da esperança dos brotos, frutos das flores.
              essa é a minha ventura,
              percorro campinas
              levando na mente o peso de uma gaiola.
              Se viajo em bando, é porque não sei escolher o caminho.
              sou um poeta só,
              preso
              à condição de passarinho.



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